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Chávez volta a mirar Congresso brasileiro
Marcha a favor do presidente venezuelano reúne dezenas de milhares em Caracas; estatais contribuem para o evento
Em discurso a simpatizantes transmitido em cadeia nacional, Chávez acusa legisladores brasileiros de "arremeter" contra seu país
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
O presidente da Venezuela,
Hugo Chávez, disse ontem que
o Congresso brasileiro e outros
parlamentos "arremetem contra a Venezuela" e que o Legislativo em Brasília emitiu um
"comunicado grosseiro", em
nova alusão ao requerimento
do Senado pedindo que ele reconsiderasse o fim da concessão ao canal de oposição RCTV.
"O Congresso dos EUA, uma
fração do Congresso da União
Européia e até o Congresso do
Brasil; os jornais do mundo, as
emissoras das grandes cadeias
-manipuladas por seus donos,
representantes da elite mundial, que pretendem impor aos
povos sua vontade imperial-,
arremetem contra a Venezuela", disse Chávez, em discurso a
simpatizantes transmitido em
cadeia nacional de rádio e TV.
Minutos depois, diria: "No
Brasil, a comissão do Congresso emite um comunicado grosseiro que me obriga a responder. Não aceitamos de ninguém
ingerência nos assuntos internos da Venezuela". E ainda:
"Não me importa ser catalogado por esses poderosos meios
de comunicação em seus espaços dominados pela elite. Que
me chamem de tirano, que me
comparem a Hitler, Mussolini
(...). O que me importa é a dignidade do povo da Venezuela".
Antes, Chávez chamara o
Congresso brasileiro de "papagaio" de seu análogo americano
-atitude repudiada pelo governo Lula (leia texto na pág. A23).
Marcha de apoio
Um dia após proibir uma
marcha contra o fechamento
da RCTV, o governo lançou
mão ontem da máquina estatal
para promover uma manifestação que reuniu dezenas de milhares de pessoas (não há estimativas confiáveis) em favor do
fim da concessão da RCTV, fora
do ar desde o último domingo.
A "marcha vermelha" pró-Chávez partiu da zona leste da
cidade rumo ao centro. A maioria dos participantes era de
funcionários públicos e filiados
a programas sociais do governo. Órgãos estatais contribuíram com carros de som e ônibus para os participantes, disseram manifestantes à Folha.
Alguns tinham a identificação oficial, como um caminhão
de som do governo metropolitano de Caracas. A reportagem
ainda identificou caminhões da
Ipostel (correios), do Seniat
(fisco), do Instituto Venezuelano de Seguro Social, da PDVSA
(petroleira) e da Conatel (reguladora das telecomunicações).
Do carro de som conduzido e
seguido por funcionários da TV
Telesur, o locutor gritava: "O
povo diz e tem razão/agora é a
vez da Globovisión", citando a
única emissora crítica ao governo. A concessão da Globovisión só vence em 2011, mas o
canal é investigado após o governo acusá-lo de incitar o assassinato de Chávez.
Indagado pela reportagem
sobre o uso da máquina estatal,
o presidente da Telesur, Andrés Izarra, disse que o aluguel
do carro fora "rateado entre
funcionários". Irritado, disse:
"O que você quer dizer? Que isso deslegitima a marcha?".
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