São Paulo, domingo, 05 de janeiro de 2003

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BIOTECNOLOGIA

Empresa ligada aos raelianos não forneceu evidências do feito

Seita anuncia seu segundo "clone"

DA REDAÇÃO

Um segundo bebê clonado teria nascido na noite de sexta-feira num país no norte da Europa, informou ontem a diretora da empresa Clonaid e "bispa" da seita dos raelianos, Brigitte Boisselier, sem fornecer provas.
"Um segundo bebê nasceu ontem. É uma menina. Está muito bem", declarou Boisselier à agência de notícias "France Presse" por telefone. O bebê teria nascido às 22h, com 2,7 kg, de parto normal, e será criado por um casal de lésbicas holandesas. Seria uma cópia genética de uma delas.
Boisselier não precisou o local do nascimento, mas disse que não deveria haver muitos bebês nascidos às 22h de sexta-feira no norte da Europa.
O anúncio acontece num momento em que a credibilidade de Boisselier já está em xeque. Até agora, a química francesa não ofereceu evidências científicas de que o primeiro suposto bebê clonado fabricado pela Clonaid, a menina Eva, é de fato um clone.
Em 27 de dezembro, a Clonaid anunciou o nascimento de Eva, prometendo uma confirmação por um "especialista independente" por meio de teste de DNA em uma semana.
O teste, que deveria ter sido realizado na última terça-feira, não o foi -e talvez não venha a ser. O líder da seita Movimento Raeliano, o ex-jornalista francês Claude Vorilhon, ou Raël, pediu a Boisselier que não autorizasse o exame.
Segundo Vorilhon, o pedido para não prosseguir com os testes de DNA no primeiro clone foi motivado por uma petição apresentada por um advogado do Estado americano da Flórida para que a tutela de Eva seja retirada de seus pais e passe ao Estado.
Tanto Raël quanto Boisselier e os pais da criança foram chamados para uma audiência no dia 22 num tribunal da Flórida -Estado americano no qual o anúncio da suposta clonagem foi feito- a fim de tratar da questão da tutela, afirmou o responsável pela petição, o advogado Bertrand Siegel.
Segundo Siegel, o bebê, que teria nascido no dia 26 de cesárea num local não revelado pela Clonaid, está sendo explorado midiática e comercialmente e poderia ter problemas genéticos graves. Ele pede que a Justiça ordene um exame médico na menina e que ela seja posta sob tutela judicial.
"A má notícia é que há dois dias um juiz da Flórida assinou um papel que diz que o bebê Eva deveria ser retirado de sua família, de sua mãe", explicou Raël à rede de TV norte-americana CNN.
"A doutora Boisselier estava a ponto de iniciar os exames de DNA com [o jornalista americano" Michael Guillen para demonstrar ao mundo que [a clonagem" é verdade. Liguei imediatamente para ela e disse: "Se fosse você, não faria exame nenhum"."
Na última quinta-feira, em entrevista à rede de TV francesa France-2, Boisselier afirmou que os pais da criança estavam com medo do exame de DNA, porque queriam permanecer anônimos e temiam perder a guarda do bebê. Eles teriam pedido 48 horas para decidir se autorizavam o teste.

Problemas
As notícias de clones da Clonaid, empresa fundada por Raël e dirigida por Boisselier, têm sido recebidas com preocupação e ceticismo. Cientistas do mundo inteiro duvidam que Boisselier e sua equipe tenham competência técnica para produzir uma cópia humana -afinal, nenhum primata, grupo ao qual pertence o home, foi clonado até hoje com sucesso, apesar de a técnica ser conceitualmente simples.
Além disso, eles são quase unânimes em condenar a clonagem humana para fins reprodutivos devido a diversos problemas com o indivíduo gerado, que vão desde abortos espontâneos em fases adiantadas da gestação até doenças genéticas no ser produzido, como obesidade, envelhecimento precoce e artrite.
Para Ian Wilmut, cientista escocês que criou a ovelha Dolly, em 1996, não existem clones normais de mamífero.
Para a religião raeliana, no entanto, a clonagem é uma espécie de dogma central. Seu líder, Raël, acredita que a vida na Terra foi criada por extraterrestres e que os seres humanos são clones dessas criaturas -e conseguirão a vida eterna por meio da clonagem.


Com agências internacionais


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