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EUA
Ex-membro do Partido Democrata, presidente gradativamente assumiu posições conservadoras em sua trajetória política
Trajetória de Reagan foi do centro à direita
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Em "De Volta para o Futuro",
quando Marty, o personagem vivido por Michael J. Fox, diz a pessoas de 1955 que 30 anos depois
Ronald Reagan seria o presidente
dos EUA, a reação geral é de absoluta incredulidade.
Afinal, em 1955, Reagan era conhecido apenas como o apresentador do programa semanal de televisão "General Electric Theatre"
e por uns poucos acertos como
ator no início da década de 40.
Seu talento artístico só havia sido louvado duas vezes: no filme
"Criador de Campeões" (1940),
em que fez o papel de um jogador
de futebol americano, e em "Em
Cada Coração um Pecado" (1941),
um dramalhão.
Além disso, havia presidido o
Sindicato dos Atores de Cinema
entre 1947 e 1952 (posição que
voltaria a ter entre 1959 e 1960), o
que nada representava na época
(ou agora) em termos de reconhecimento público.
Ronald Wilson Reagan foi o homem mais idoso, o primeiro divorciado e o único ator profissional jamais eleito para o cargo de
presidente dos EUA. Na eleição
de 1980 tinha 69 anos. Quando
deixou a Casa Branca, quase 78.
Ele nasceu em 6 de fevereiro de
1911, na casa da família em Tampico, Illinois, meio-oeste dos
EUA. Seu pai, John, era vendedor
de sapatos. A mãe, Nelle, dona-de-casa com vago interesse em
dramaturgia.
Sua infância foi difícil, do ponto
de vista material. Os Reagan se
mudaram várias vezes em busca
de melhores empregos e Ronald
começou a trabalhar aos 14 anos
para ajudar a sustentar a casa.
O pai era alcoólatra e a mãe se
tornou o grande modelo de Ronald, o caçula de dois meninos (o
irmão mais velho, Neil, se tornou
publicitário). A ela, em grande
parte, é atribuída a vocação artística de Ronald.
Aluno medíocre, Reagan conseguiu cursar faculdade (de economia, em Eureka, Illinois), graças a
seu talento como jogador de futebol americano, que lhe rendeu
uma bolsa de estudos.
Foi na faculdade de Eureka, que
Reagan demonstrou pela primeira vez seus dotes de liderança: como presidente do grêmio estudantil, organizou greve contra
cortes de cursos, que acabou na
renúncia do diretor da escola.
Sua carreira de artista começou
também em Eureka, no grupo de
teatro da faculdade. Depois de
formado, em 1932, Reagan foi para Chicago, onde trabalhou como
locutor de rádio até 1937.
De Chicago, seguiu para Hollywood, pelas mãos de um amigo
que o levou para os estúdios Warner Brothers, com quem assinou
contrato de sete anos pelo salário
semanal de US$ 200.
Em 1940, Reagan se casou com
Jane Wyman, que ganhou o Oscar
de melhor atriz em 1948, pelo papel de surda-muda em "Belinda".
O casal teve dois filhos, Michael e
Maureen. Após oito anos de casamento, os dois se divorciaram.
A segunda mulher de Reagan,
Nancy Davis, se tornou a primeira-dama dos EUA. Ela também
era atriz, muito menos famosa e
bem-sucedida do que Wyman.
Seu padrinho de casamento, em
1952, foi William Holden.
Nancy e Ronald fizeram juntos
um filme medíocre, em 1957, e tiveram dois filhos controvertidos:
a atriz e romancista Patti, que fez
oposição política ao pai, e o bailarino e entrevistador de TV Ronald, homossexual.
Alguns críticos acham que a
carreira de ator de Reagan naufragou devido ao intervalo que lhe
foi imposta pela Segunda Guerra
Mundial, quando parecia começar a decolar.
Ele serviu ao Exército entre 1942
e 1945, como capitão. Por ter sérias deficiências visuais e auditivas, não foi chamado para o campo de batalha. Mas ficou longe
dos estúdios tempo suficiente para ser esquecido.
O retorno foi difícil. Contracenou com Shirley Temple, apresentou shows em Las Vegas, mas
só em 1954 conseguiu emprego
satisfatório, como porta-voz da
General Electric e apresentador
do General Electric Theater.
Durante a década de 50, Reagan,
que sempre se interessou muito
por política, foi deixando o Partido Democrata, ao qual era filiado
desde os anos 30, e aceitando cada
vez mais pontos de vistas conservadores.
Em 1952 e 1956, participou da
organização Democratas por Eisenhower e em 1960 fez discursos
a favor da candidatura de Richard
Nixon para presidente. Em 1962,
formalizou seu registro no Partido Republicano.
O discurso, transmitido em rede
nacional, teve grande impacto sobre boa parte do eleitorado conservador do país e transformou
Reagan num possível candidato
viável para quase qualquer cargo
público.
Seu envolvimento com o partido aumento em 1964, quando foi
um dos dois organizadores da
campanha presidencial de Barry
Goldwater.
A grande virada na vida de Reagan se deu em 1966. Ele resolveu
se tornar governador da Califórnia, o segundo mais importante
Estado do país, e conseguiu sem
grandes problemas.
Obteve a legenda do Partido Republicano, cuja máquina passara
a controlar desde a campanha de
Goldwater, e teve 58% dos votos
na eleição contra o governador
Pat Brown, que tentava se reeleger.
Reagan governou a Califórnia
de 1967 a 1975. Reelegeu-se com
53% dos votos. Fez uma administração ultraconservadora. Acabou com o déficit orçamentário
com radicais cortes de despesas e
funcionários públicos.
Mandou a polícia reprimir com
violência protestos contra a Guerra do Vietnã, vetou projetos de lei
de legalização da maconha, eliminou milhares de pessoas dos sistemas de previdência social.
Tentou ser candidato à Presidência em 1968. Mas acabou em
terceiro lugar na convenção nacional do Partido Republicano,
abaixo de Nelson Rockfeller e de
Richard Nixon, que venceu a disputa interna do partido.
Fez uma segunda tentativa em
1976 e perdeu a convenção para o
então presidente, Gerald Ford,
por apenas 60 votos num total de
2.200. Iniciou um programa diário em rede nacional de rádio e
uma coluna em jornais.
Em 1980, Reagan era imbatível
entre os republicanos. Seu principal oponente foi George Bush,
que abandonou o pleito antes da
convenção nacional e teve 13 votos dos convencionais contra
1.939 de Reagan.
Reagan, tendo Bush como seu
vice, derrotou o presidente Jimmy
Carter na eleição de novembro de
1980, com 51% dos votos. Carter
teve 41% e o candidato independente John Anderson 7%.
A reeleição em 1984, contra
Walter Mondale, foi mais fácil.
Ninguém no Partido Republicano
se atreveu a desafiar o presidente,
que teve 59% dos votos contra
41% do candidato democrata.
Em 30 de março de 1981, dois
meses depois da posse, Reagan foi
vítima de atentado. Uma das seis
balas disparadas por John Hinkley se alojou a 2,5 cm do coração
do presidente. Em 12 dias, Reagan
estava de volta ao trabalho.
Reagan deixou a Presidência
com taxas de aprovação pública
de 63% e elegendo seu vice, Bush,
para sucedê-lo. A admiração dos
norte-americanos por ele diminuiu após as investigações do caso Irã-Contras.
Em novembro de 1994, Reagan
enviou carta-aberta ao país, na
qual informava seus concidadãos
que sofria do mal de Alzheimer,
doença cerebral incurável e progressiva.
Carlos Eduardo Lins da Silva, 51, jornalista, é diretor da Patri Relações Governamentais e Políticas Públicas
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