São Paulo, terça-feira, 06 de junho de 2006

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Humala segue dividindo o Peru após vitória de García

Apesar da derrota, nacionalista saiu fortalecido e terá a maior bancada parlamentar

Apuração praticamente concluída dá 53% dos votos para o ex-presidente, contra 46% de Humala, que prevê "transformação histórica"
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LIMA

O segundo turno terminou no Peru, mas a polarização entre o ex-presidente de centro-esquerda Alan García e o candidato nacionalista Ollanta Humala deve continuar. Os resultados oficiais decretaram a vitória do candidato do Apra (Aliança Popular Revolucionária Americana), mas também asseguraram ao tenente-coronel aposentado o papel de principal força de oposição do país.
De acordo com os dados oficiais da Onpe (Escritório Nacional de Processos Eleitorais), apuradas 93% das urnas até o fechamento desta edição, García obteve 53,1% dos votos, contra 46,8% para Humala.
A apuração, por outro lado, mostra que o candidato nacionalista venceu na maioria dos departamentos (Estados) do país: 14, espalhados pelo centro e sul do altiplano peruano e pela região amazônica, contra 11 do ex-presidente aprista, hegemônico na costa, onde está Lima, principal colégio eleitoral.
Para o sociólogo Carlos Reyna, mesmo derrotado, o voto a Humala é mais consistente do que o depositado a García.
"O voto a Humala é mais sólido que o voto a García porque o voto ao ganhador foi por medo, e o voto ao nacionalista se deu apesar da campanha de medo contra Humala", disse à agência France Presse.
O calendário eleitoral deste ano ainda não terminou. Em novembro, os peruanos elegem todos os prefeitos regionais (governadores) e prefeitos.
Já o novo Congresso, eleito em abril durante o primeiro turno e com uma renovação de 75%, terá a maior bancada formada pela UPP (União pelo Peru), de Humala, com 45 parlamentares, dos quais apenas um já havia sido eleito. Em seguida vem o Apra, com 36 cadeiras.
A terceira força é da coalizão Unidade Nacional, da direitista Lourdes Flores, que perdeu por pouco a vaga para o segundo turno. O partido do presidente Alejandro Toledo, Peru Possível, elegeu dois parlamentares.
O bom resultado fez com que Humala declarasse anteontem à noite que as eleições "haviam mudado o panorama político do Peru" e chegou a anunciar que "hoje começa a transformação histórica do país". O nacionalista só reconheceu a derrota no fim da noite.
García, que ontem não fez pronunciamentos, discursou no domingo para milhares de simpatizantes em Lima, quando lembrou o fracasso de seu primeiro governo (1985-90). "O povo votou no Apra apesar dos erros e das filas", afirmou, em alusão ao racionamento de produtos como pão e leite.

Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ligou ontem para García para parabenizá-lo e convidá-lo a visitar o Brasil antes da posse, no dia 28 de julho. García faria uma visita de Estado em agosto, aproveitando o encontro da OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica). Nenhuma das visitas está confirmada.
García buscou se aproximar de Lula na campanha por meio de elogios, geralmente para contrapô-lo ao presidente venezuelano, Hugo Chávez. A relação é antiga: em 1989, quando perdeu a eleição para Fernando Collor, Lula foi recebido pelo então presidente García.
Depois de muito bate-boca, com García, Chávez, que apoiou Humala abertamente, não se manifestou sobre o resultado até o fechamento desta edição. Já o subsecretário de Estado norte-americano, Robert Zoellick, disse que a vitória de García foi a "melhor resposta" a Chávez.


Com agências internacionais


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