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São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2003

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MÍDIA

Megaempresário de comunicação expande negócios, mas analistas prevêem problemas para os filhos, seus sucessores

Murdoch pode legar "império de areia"

DO ""LE MONDE", EM LONDRES

Aos 72 anos, Rupert Murdoch está a ponto de realizar seu sonho: tornar-se o rei da TV por satélite em escala planetária. Seu império de mídia vive constantemente à procura de novas conquistas. Nos EUA, está a ponto de assumir o controle da DirecTV, o que o colocaria no primeiro escalão das emissoras por satélite. Na Europa, ele está prestes a abocanhar as partes mais interessantes que restaram do Canal+. Depois de adquirir a Telepiù, filial italiana do grupo francês, para criar a Sky Italia, Murdoch negocia a retomada da Sogecable, filial espanhola da rede de TV codificada, e uma parte da Canal+ Technologies. Essa retomada pode lhe garantir, após anos de esforços, a supremacia mundial sobre a tecnologia da decodificação e da TV interativa.
A paixão de Rupert Murdoch continua a ser dar golpes ousados. Suas TVs pagas podem gabar-se de atingir 110 milhões de telespectadores hoje. Mas ele não pára de acrescentar novas peças ao conjunto. O empresário da mídia australiano-americano aguarda alvará do Departamento da Justiça dos EUA para adquirir 34% da DirecTV, primeira rede de TV por satélite do país, com cerca de 11 milhões de assinantes. Com o controle dessa jóia, ""Rupert, o Magnífico", como é conhecido, vai passar a dispor de seu canal próprio de distribuição nos EUA dos filmes e programas produzidos por sua rede Fox (que inclui, entre outros, o estúdio 20th Century e a Fox News).
Murdoch conta com o aval do governo Bush. No conflito no Iraque, a Fox deu apoio inquestionável à administração republicana. No Reino Unido, a BSkyB, da qual Murdoch é dono de 36,2%, já se impôs na paisagem audiovisual, tendo como única rival real a BBC. Essa potência está em processo de se estender por todo o sul da Europa, com a cumplicidade de seu velho amigo, o premiê italiano Silvio Berlusconi.
O poder do grupo se concentra na presidência, criada em 1996. Além do próprio Murdoch e de seu filho mais velho, Lachlan, 31 -o sucessor designado-, o alto escalão inclui alguns ajudantes fiéis, que supervisionam o comitê executivo, composto por 21 gerentes espalhados pelo mundo.
Mas o cenário aparentemente perfeito não deixa de ser marcado por algumas sombras. A BSkyB está sendo ameaçada pela Premier League (liga de futebol inglesa) de ter os direitos de transmissão das partidas abertos à concorrência. A altamente deficitária rede asiática Star TV, comandada por James Murdoch, filho mais velho do empresário, pode ter suas atividades na Índia proibidas em razão da falta de transparência em relação a seus acionistas.
Diversas incertezas pesam sobre o futuro do grupo. A sucessão de Murdoch está na ordem do dia desde que o empresário foi operado de um câncer na próstata, em 2000. Dúvidas sérias persistem quanto à capacidade de Lachlan Murdoch de assumir as rédeas do conglomerado. Não se pode excluir a possibilidade de uma guerra fratricida pelo poder.
Os analistas financeiros chamam a atenção para a incoerência de um grupo feito de partes avulsas, cujos ativos são destituídos de sinergia. A opinião generalizada é que Murdoch, no auge de seu poder, pode deixar para seus herdeiros pouco mais do que um império feito de areia.


Tradução de Clara Allain


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