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MÍDIA
Megaempresário de comunicação expande negócios, mas analistas prevêem problemas para os filhos, seus sucessores
Murdoch pode legar "império de areia"
DO ""LE MONDE", EM LONDRES
Aos 72 anos, Rupert Murdoch
está a ponto de realizar seu sonho:
tornar-se o rei da TV por satélite
em escala planetária. Seu império
de mídia vive constantemente à
procura de novas conquistas. Nos
EUA, está a ponto de assumir o
controle da DirecTV, o que o colocaria no primeiro escalão das
emissoras por satélite. Na Europa,
ele está prestes a abocanhar as
partes mais interessantes que restaram do Canal+. Depois de adquirir a Telepiù, filial italiana do
grupo francês, para criar a Sky
Italia, Murdoch negocia a retomada da Sogecable, filial espanhola
da rede de TV codificada, e uma
parte da Canal+ Technologies.
Essa retomada pode lhe garantir,
após anos de esforços, a supremacia mundial sobre a tecnologia da
decodificação e da TV interativa.
A paixão de Rupert Murdoch
continua a ser dar golpes ousados.
Suas TVs pagas podem gabar-se
de atingir 110 milhões de telespectadores hoje. Mas ele não pára de
acrescentar novas peças ao conjunto. O empresário da mídia
australiano-americano aguarda
alvará do Departamento da Justiça dos EUA para adquirir 34% da
DirecTV, primeira rede de TV por
satélite do país, com cerca de 11
milhões de assinantes. Com o
controle dessa jóia, ""Rupert, o
Magnífico", como é conhecido,
vai passar a dispor de seu canal
próprio de distribuição nos EUA
dos filmes e programas produzidos por sua rede Fox (que inclui,
entre outros, o estúdio 20th Century e a Fox News).
Murdoch conta com o aval do
governo Bush. No conflito no Iraque, a Fox deu apoio inquestionável à administração republicana.
No Reino Unido, a BSkyB, da qual
Murdoch é dono de 36,2%, já se
impôs na paisagem audiovisual,
tendo como única rival real a
BBC. Essa potência está em processo de se estender por todo o sul
da Europa, com a cumplicidade
de seu velho amigo, o premiê italiano Silvio Berlusconi.
O poder do grupo se concentra
na presidência, criada em 1996.
Além do próprio Murdoch e de
seu filho mais velho, Lachlan, 31
-o sucessor designado-, o alto
escalão inclui alguns ajudantes
fiéis, que supervisionam o comitê
executivo, composto por 21 gerentes espalhados pelo mundo.
Mas o cenário aparentemente
perfeito não deixa de ser marcado
por algumas sombras. A BSkyB
está sendo ameaçada pela Premier League (liga de futebol inglesa) de ter os direitos de transmissão das partidas abertos à concorrência. A altamente deficitária rede asiática Star TV, comandada
por James Murdoch, filho mais
velho do empresário, pode ter
suas atividades na Índia proibidas
em razão da falta de transparência
em relação a seus acionistas.
Diversas incertezas pesam sobre o futuro do grupo. A sucessão
de Murdoch está na ordem do dia
desde que o empresário foi operado de um câncer na próstata, em
2000. Dúvidas sérias persistem
quanto à capacidade de Lachlan
Murdoch de assumir as rédeas do
conglomerado. Não se pode excluir a possibilidade de uma guerra fratricida pelo poder.
Os analistas financeiros chamam a atenção para a incoerência
de um grupo feito de partes avulsas, cujos ativos são destituídos de
sinergia. A opinião generalizada é
que Murdoch, no auge de seu poder, pode deixar para seus herdeiros pouco mais do que um império feito de areia.
Tradução de Clara Allain
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