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Brasil usou arma biológica contra índios
BRUNO BLECHER
EDITOR DO AGROFOLHA
Armas biológicas, como os vírus da varíola e do sarampo, foram utilizadas no Brasil no século
19 para exterminar os índios.
Pelo menos três casos documentados mostram que o contato
dos índios com as doenças dos
brancos também ocorreu de forma proposital, com o objetivo deliberado de dizimar tribos hostis.
O mais "clássico" deles, segundo o antropólogo Mércio Pereira
Gomes, aconteceu em Caxias, no
sul do Maranhão, por volta de
1816. A vila estava se transformando em um grande centro de
criação de gado, e os fazendeiros
queriam se livrar dos índios timbira. "O plano era atrair os índios
para a vila, então atacada por uma
epidemia de bexiga (varíola).
Uma vez ali, as bexigas dariam
conta deles", descreve o antropólogo Darcy Ribeiro no livro "Os
Índios e a Civilização".
Os fazendeiros de Caxias "presentearam" um grupo de 50 índios com roupas de moradores da
vila que haviam contraído a doença. De volta a suas aldeias, os índios espalharam o vírus. A epidemia se disseminou rapidamente
pelo sertão e atingiu até tribos a
1.800 km de Caxias.
Francisco de Paula Ribeiro, na
época comandante militar no sul
do Maranhão, relatou com detalhes o massacre dos Timbiras. O
texto, escrito em 1819, só foi publicado por volta de 1930, na revista
do Instituto Geográfico e Histórico Brasileiro. Ele conta: "Não é
certamente fácil fazer-se uma
idéia de quantos mil desgraçados
se evaporaram por semelhante
motivo, e ainda muito mais quando sabemos o método extravagante que se pretendiam curar-se,
sepultando-se nos rios para suavizar o calor das febres, ou ainda
abreviando-se uns aos outros a vida, logo que conheciam com verdadeiros sintomas daquele mal
tão cruel, ao que chamavam Pira
de Cupé, sarna dos cristãos."
Os imigrantes alemães se valeram do vírus da varíola na luta
contra os índios xokleng e kaiangang, durante a colonização de
Santa Catarina e do Paraná, no final do século 19. "Os bugreiros,
caçadores de índios contratados
pelas companhias de colonização,
deixavam nas matas roupas com
os vírus da varíola e do sarampo",
disse o antropólogo Gomes.
O naturalista francês Auguste
de Saint-Hilaire (1779-1853), que
viajou pelo Brasil entre 1816 e
1822, fez referências à guerra bacteriológica contra os índios botocudos, no vale do Rio Doce.
Ele denunciou na Europa as
atrocidades cometidas por portugueses e brasileiros, que entregavam aos índios roupas contaminadas por varíola. "Em breve, nada mais restará dos antigos povos
indígenas que habitavam as terras
do Brasil", previu o naturalista,
em 1847, no livro "Viagem à Província de Goiás". Ele estava certo.
Em 1500, a população indígena no
Brasil ultrapassava 2 milhões de
pessoas. Há estimativas que
apontam até 6 milhões de índios.
Hoje restam apenas 300 mil.
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