São Paulo, domingo, 29 de fevereiro de 2004

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CARIBE

Aristide resiste, crescem distúrbios em Porto Príncipe e líder rebelde fala em adiar ofensiva final após apelo dos EUA

Capital haitiana vive caos à espera de ataque

DA REDAÇÃO

Distúrbios e sinais de anarquia aumentaram ontem em Porto Príncipe, com moradores saqueando depósitos, forças governistas atacando transeuntes e rebeldes aumentando o cerco à capital haitiana. O combalido presidente Jean-Bertrand Aristide, porém, voltou a dizer que não deixa o cargo, embora EUA e França já tenham pedido a sua renúncia.
O líder rebelde Guy Philippe disse à agência Associated Press que pode atrasar em um ou dois dias um ataque contra a capital em resposta a apelo dos EUA.
Segundo ele, os rebeldes seguirão convergindo à capital. Philippe disse que não foi contatado diretamente por Washington e que espera que os EUA possam encontrar uma saída pacífica à crise. "Se eles pedem, é porque devem ter uma opção melhor, uma opção pacífica, então vamos esperar mais um ou dois dias", disse.
Homens leais a Aristide roubaram e agrediram funcionários das embaixadas francesa e americana, segundo testemunhas. Ataques contra membros da comunidade estrangeira vêm crescendo desde que Paris e Washington pediram a renúncia do presidente.
Ao menos cinco pessoas morreram anteontem quando milícias pró-governo atacaram pessoas nas ruas, destruíram barricadas e saquearam o único hospital operante da capital. Alguns saqueadores foram vistos ontem andando com roupas de hospital.
A rádio privada Vision 2000 suspendeu suas transmissões após milícias, supostamente governistas, terem atacado sua sede a tiros na manhã de ontem.
Aristide, o primeiro presidente eleito democraticamente no Haiti, em 1990, voltou a repetir na madrugada de ontem que completará seu segundo mandato até o final, em 2006, e disse que estará no palácio presidencial amanhã, embora um dos líderes rebeldes tenha dito que comemoraria seu aniversário hoje no palácio.
Cerca de 2.200 marines foram colocados em alerta, enquanto Washington estudava a possibilidade de enviar tropas para a costa haitiana para deter uma possível onda migratória em direção aos EUA e proteger cerca de 20 mil americanos que vivem no empobrecido país caribenho.
Aristide pede intervenção estrangeira para acabar com a revolta, que já matou mais de 80 pessoas desde seu início, no norte do país, no começo do mês.
"Tenho a responsabilidade, como presidente eleito, de ficar onde estou", disse Aristide. A comunidade internacional -liderada por EUA, França e Canadá- vem insistindo para que governo e rebeldes cheguem a um acordo político antes de uma intervenção.
Uma autoridade americana, que não quis se identificar, disse que Washington concluiu que a melhor forma de impedir que os rebeldes tomem o poder à força seria Aristide transferir o poder ao presidente da Suprema Corte, Boniface Alexandre, seu sucessor segundo a Constituição do país.

Armas
Na África do Sul, o jornal "Die Burger" noticiou que um avião carregado de armas deveria partir para a capital do Haiti. O armamento seria entregue a forças pró-Aristide. Funcionários do governo sul-africano não negaram nem confirmaram a informação.


Com agências internacionais


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