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Ensaio

Um conselho cúmplice da queda da MF Global

STEVEN M. DAVIDOFF

A explicação fácil para a queda da corretora MF Global é que ela foi morta pelas apostas arriscadas de Jon S. Corzine. No entanto, a MF Global não foi torpedeada apenas por Corzine, mas por seu conselho diretor.

O conselho da MF Global é altamente sofisticado e experiente. Ele inclui dois ex-executivos do gigante banco internacional HSBC; o ex-diretor financeiro da seguradora Aon Corporation; e um alto membro da firma de capitais privados J.C. Flowers & Company.

No turno desse conselho, a MF Global investiu em dívida soberana europeia usando financiamento de curto prazo. Quando as agências de classificação e os investidores ficaram alarmados com a dívida europeia, o financiamento secou e logo se seguiu uma clássica corrida ao banco. A falência veio em seguida.

No papel, esses diretores altamente qualificados deveriam ter percebido que Corzine estava assumindo riscos indevidos. Foi o financiamento de curto prazo que derrubou o Lehman Brothers e o Bear Stearns. Há até um membro do conselho que parece ser especializado nesse tipo de financiamento e administração de riscos: Robert S. Sloan, um sócio-diretor de uma empresa que se dedica a administração colateral global e administração de riscos.

O conselho parecia estar totalmente consciente desses negócios, e os discutiu. A existência dos negócios também foi revelada pela MF Global em seus memorandos públicos. Pelas indicações disponíveis, os diretores da MF Global aprovaram os negócios.

A pergunta é: por quê? Como esse conselho pode ter sido tão tolo, especialmente quando vários diretores parecem ter experiência nessa questão?

Existem ideias de que o conselho da MF Global deixou de conter esses negócios por reverência a Corzine e seu pedigree no Goldman Sachs. Mas esses diretores eram experientes para ser enganados por Corzine ou levados a uma obediência cega.

Uma explicação melhor talvez seja que os conselheiros são inerentemente incapazes de fazer o serviço: supervisionar a companhia e contrabalançar a influência de seu executivo-chefe. Os diretores são membros em meio período de uma corporação. A capacidade até dos diretores mais sofisticados de compreender a empresa melhor que a gerência é improvável.

O resultado é que quando um executivo-chefe diz que uma linha de ação é adequada, é improvável que os diretores contestem essa ação porque eles também acreditam nela. Os diretores querem se entender com os outros e fazer a empresa avançar. Essa dinâmica é terrivelmente poderosa e pode dominar até os conselhos mais sofisticados.

Talvez esteja na hora de reconhecer que não são apenas os conselhos, mas a cultura de investimento que precisa mudar. Um lugar como a MF Global, onde uma pessoa pode tomar uma decisão tão importante, está destinado a explodir.

Os conselhos precisam assumir a responsabilidade de criar uma cultura que sirva efetivamente para conter os riscos. O que hoje parece ser um fracasso óbvio da administração de riscos deveria ter sido captado antes de chegar ao conselho.

Na ausência de responsabilização, precisa haver uma regulamentação que reconheça que os conselheiros não podem conter o risco indevido. Os reguladores precisam criar um sistema e uma cultura que o impeça.

Principalmente, precisamos fazer perguntas difíceis sobre por que os conselheiros repetidamente deixam de evitar a implosão de suas instituições financeiras. Do contrário, vamos desperdiçar mais uma crise.

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