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New York Times

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Bônus em ações não garante boa liderança

Empresas falham ao não mensurar inovação trazida por CEOs

Por GRETCHEN MORGENSON

Os presidentes-executivos (CEOs) das 200 maiores companhias de capital aberto norte-americanas (com faturamento anual de pelo menos US$ 1 bilhão) receberam grandes aumentos no ano passado, em termos agregados.

Uma pesquisa conduzida para o "New York Times" pela Equilar, empresa de análise de remuneração executiva, constatou que o pacote salarial médio anual de 2012 para esse grupo foi de US$ 15,1 milhões -ou 16% a mais do que a média de 2011.

Para muitos dos executivos, o salário empalidece diante das opções e concessões de ações recebidas. O salário médio do ano passado foi de US$ 5,3 milhões, enquanto as opções e concessões de ações atingiram média de US$ 9 milhões. A análise da Equilar estima o valor médio das carteiras de ações desses executivos em US$ 51 milhões.

Mas a remuneração em ações, vista como incentivo para que o executivo melhore o desempenho da companhia, é também a área em que mais surgem excessos e distorções de pagamento.

A maneira pela qual os conselhos das empresas avaliam o desempenho empresarial pode criar problemas caso os incentivos de longo prazo não estejam alinhados aos interesses dos acionistas.É muito frequente que os indicadores empregados pelos conselhos para avaliar o desempenho se concentrem em resultados de curto prazo. Além disso, esses indicadores muitas vezes desconsideram um elemento crucial para o sucesso a longo prazo de uma companhia: a capacidade de inovar.

"Precisamos de um sistema de remuneração alinhado aos propulsores de valor a longo prazo, como a inovação", diz Mark Van Clieaf, diretor administrativo da MVC Associates International, consultoria organizacional. "Mas é provável que, em 70% a 80% das empresas, não existam indicadores para medir o impacto dos novos produtos ou serviços lançados."

As companhias que não consideram a inovação ao decidir sobre a remuneração de seu pessoal estão na prática recompensando a mesmice e deixando de recompensar iniciativas que manteriam a empresa forte a longo prazo, entre as quais esforços visionários de investimento em pesquisa.

Brian Foley, consultor independente de remuneração em White Plains, em Nova York, aponta que a remuneração em 2012 dos executivos que ocupam o segundo posto em algumas dessas companhias os teria levado ao ranking de presidentes-executivos mais bem remunerados dos Estados Unidos.

"Existem pessoas nessas empresas que ganham tanto quanto -ou até mais- que o presidente-executivo", disse Foley. Isso é um lapso, dado o peso considerável das opções ou concessões de ações. As ações -usadas como pagamento vinculado ao desempenho- em geral respondem por pelo menos 50% dos incentivos de longo prazo de um presidente-executivo típico.

A proporção média das concessões e opções de ações na remuneração, para os 200 presidentes-executivos da lista em 2012, era de 60% da remuneração total. Larry Ellison, fundador e presidente-executivo da produtora de software Oracle, ocupa o primeiro lugar no ranking. Ellison recebeu US$ 90,7 milhões em opções de ações em 2012, ou 94% de sua remuneração total de US$ 96,2 milhões. Sua remuneração geral subiu 24% em 2012. Os retornos para os acionistas, enquanto isso, foram de 22% negativos no ano fiscal da empresa.

Entre os cinco presidentes-executivos de grandes empresas que receberam remuneração pelo menos 100% mais alta que a do ano anterior, as concessões e opções de ações representam a maior proporção do pagamento.

Entre eles, estão Robert Kotick, da produtora de videogames Activision Blizzard, James Crowe, da Level 3 Communications (companhia de redes de comunicação) e Mark Parker, da Nike. Kotick recebeu concessões de ações da ordem de quase US$ 56 milhões, ou 86% de seu pagamento total.

Dos US$ 40,7 milhões em remuneração recebidos por Crowe, as concessões e opções de ação respondem por 91%. Na Nike, opções e concessões de ações responderam por 77% da remuneração de US$ 35,2 milhões recebida por Parker. Os acionistas da Level 3 e da Nike lucraram com suas ações no ano fiscal de 2012 -um ganho de 36% para a Level 3 e de 30% para a Nike. Os da Activision não tiveram tanta sorte: as ações de sua empresa caíram em 12%.

Cassandra Bujarski, porta-voz da Activision, disse que os US$ 56 milhões em ações recebidos por Kotick eram parte de um novo contrato de cinco anos que ele assinou em março de 2012, depois de duas décadas como presidente-executivo. As opções de ações poderão ser exercidas em cinco anos, e metade do seu valor tem por base o desempenho da empresa no período.

Uma maneira de avaliar o compromisso de uma empresa com a inovação é calcular as despesas com pesquisa e com desenvolvimento em comparação ao faturamento. Outra é estudar o retorno do capital investido, o que indica a eficiência do uso do dinheiro da empresa para gerar lucros. Esse indicador deve superar o custo percentual de capital da empresa.

Van Clieaf argumenta que os conselhos deveriam considerar esses fatores ao montar os pacotes de remuneração vinculados ao desempenho. De outra forma, o executivo pode ser recompensado por destruir valor para os acionistas.

Entre as poucas empresas que adotam um critério de inovação no cálculo da remuneração por desempenho de seus executivos está a 3M, diz Van Clieaf. O "Índice de Vitalidade de Novos Produtos" adotado pela empresa mede a porcentagem das vendas totais da companhia, que é representada por produtos introduzidos nos cinco últimos anos.

"Os conselhos das empresas, os consultores de remuneração e as companhias de consultoria de governança precisam repensar como avaliam o que os executivos estão fazendo", acrescenta. "É hora de os investidores que concentram suas atenções no horizonte mais distante exigirem que as empresas adotem indicadores de desempenho e sistemas inventivos de alinhamento de remuneração para o longo prazo".

Outro problema com as opções de ações vinculadas ao desempenho, dizem os consultores, é que o valor do prêmio é tipicamente decidido no início do ano, muito antes que o retorno para os acionistas naquele ano ou para o futuro possa ser medido.

Já que a maioria das concessões ou opções de ações são expressas como múltiplo do salário de um executivo, uma queda de preço das ações durante o ano significa que o executivo receberá mais ações quando a hora do cálculo chegar. Em outras palavras, a perda de valor individual das ações é compensada por um aumento no número de ações concedidas.

Para eliminar esse problema, James Reda, consultor independente de remuneração em Nova York, sugere que os conselhos das empresas aloquem o valor dos prêmios por desempenho no ou próximo do final do ano, o que permite avaliar mais facilmente os retornos para os acionistas.


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