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New York Times

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Caribe promove agricultura doméstica

Por DAMIEN CAVE

KINGSTON, Jamaica - A importação de alimentos na Jamaica se tornou uma bilionária ameaça para as finanças e a saúde. Por isso, o país adotou uma ousada estratégia: fazer da agricultura uma atividade patriótica e onipresente, atrás de casas, hospitais, escolas e até prisões.

Em todo o Caribe, as importações alimentícias viraram motivo de estouros orçamentários, levando uma das mais férteis regiões do mundo a recuperar seu passado agrícola. "Estamos em uma crise alimentar", disse Hilson Baptiste, ministro de Agricultura de Antígua e Barbuda.

Numa região onde a agricultura ainda evoca a imagem de grandes plantações e da escravidão, o desafio é profundo. Muitos países estão agora qualificando como pouco saudáveis os alimentos estrangeiros, enquanto os produtos locais são apresentados como sendo responsáveis e inteligentes. A Jamaica começou antes da maioria. Há uma década, o governo lançou uma campanha com o slogan "Plante o que comemos, coma o que plantamos". Mercearias identificam produtos locais com etiquetas grandes e prateleiras bem visíveis.

A ilha está entre os vários países que já distribuíram milhares de kits com sementes para estimular o cultivo nos quintais.

As escolas da Jamaica estão envolvidas: 400 delas atualmente têm hortas mantidas por alunos e professores. Em Antígua e Barbuda, os estudantes são enviados para missões nas lavouras, dando às ilhas milhares de novos pés de abacate, laranja, fruta-pão e manga. Na Jamaica, por outro lado, as hortas e a culinária costumam ser parte do cotidiano escolar.

Professores como Jacqueline Lewis, encarregada de uma pequena escola com uma pujante horta na zona leste de Kingston, estão na linha de frente dessa batalha. É assim que Lewis, 53, trata a alimentação e a agricultura: como questões de segurança nacional. Em 1998, ela plantou sua primeira horta em um duro pedaço de terra. Ela permaneceu pequena até alguns anos atrás, quando uma agência europeia de desenvolvimento contribuiu financeiramente para uma ampliação e para a montagem de um galinheiro. Agora, a horta inclui um segundo terreno, maior.

Numa manhã recente, Lewis apanhou um facão para ensinar um tímido garoto de 14 anos a afrouxar o caule de uma cenoura, sob o olhar atento de todos os meninos. Quando o garoto puxou uma espessa touceira, com caules brilhantes como um refrigerante de laranja, todos vibraram.

Ela mais tarde observou que muitas das crianças vêm de origens conturbadas e têm dificuldades em sala de aula. O trabalho na horta, disse ela, dá a eles uma razão para virem -o comparecimento às aulas e o desempenho escolar melhoraram muito desde que a Escola Multietária Rennok Lodge começou a oferecer café da manhã gratuito, geralmente com ingredientes cultivados pelos próprios alunos.

A Jamaica sempre plantou -cana e bananas, principalmente-, e as importações entraram nessa matriz pelo menos desde a era colonial, porque é difícil cultivar grãos na região. Mas, na década de 1990, o equilíbrio se inclinou na direção dos alimentos importados. De 1991 a 2001, o total de alimentos e bebidas importado pela Jamaica cresceu 2,5 vezes, chegando a US$ 503 milhões, e já dobrou desde então.

Grande parte do crescimento inicial coincidiu com superavit agrícolas no mundo todo e com mudanças de gostos, já que mais jamaicanos passaram a apreciar carne bovina e alimentos processados. Muitos dos 200 mil agricultores da ilha reduziram sua produção na década de 1990 e no começo dos anos 2000, porque achavam difícil concorrer.

Aí veio a escassez alimentícia de 2008. Tempestades no Caribe e secas em outros lugares levaram o preço dos alimentos às alturas. Diante das preocupações de que a mudança climática torne os anos ruins ainda piores, surgiu um intenso foco regional na "segurança alimentar". Os resultados são variados.

Baptiste disse que Antígua e Barbuda está no caminho para produzir metade dos seus alimentos neste ano, depois de ter cultivado apenas 20% deles em 2009. Na maior parte do Caribe, no entanto, os avanços são menos impressionantes.

O progresso jamaicano é sutil. O gasto com a importação de alimentos se manteve estável, em torno de US$ 1 bilhão por ano, e o ministro da Agricultura, Roger Clarke, disse que muitos jamaicanos que receberam sementes desistiram de cultivá-las quando viram o aumento nas suas contas de água ou quando ladrões saquearam suas hortas.

Mesmo assim, autoridades de toda a região dizem que mais jovens estão se envolvendo. Os governos prometem que a agricultura significará trabalho constante, não só nas lavouras.

As Bahamas estão construindo uma universidade de ciências alimentícias que enfatizará a agricultura. O Haiti, que teve distúrbios por questões alimentícias em 2008, recentemente inovou criando uma série de silos para uma "reserva alimentícia estratégica", ao passo que a Jamaica pode investir na criação de empresas de produção de sucos e conservação de alimentos.


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