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New York Times

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Juventude afegã repudia ideais do Ocidente

Por AZAM AHMED e HABIB ZAHORI

Caminhando pelas ruas de Cabul, encontram-se evidências da relação que a juventude afegã tem com o Ocidente: grifes americanas estampadas em camisas e jeans, óculos escuros estilosos e celulares que constantemente atualizam o Twitter e o Facebook.

Esses adereços ocidentais, seria de se esperar, pertencem a uma geração pronta para adotar os direitos das mulheres, a democracia e outros ideais que os EUA e seus aliados gastaram bilhões de dólares tentando incutir.

Mas entrevistas com dezenas de jovens pintam um quadro diferente: o de uma geração ainda ligada a hábitos conservadores, especialmente no que diz respeito aos direitos das mulheres.

"Se alguém pensa que os jovens mudaram, deveria pensar duas vezes", disse Amina Mustaqim Jawid, diretora da Coalizão das Mulheres Afegãs Contra a Corrupção. "Esses rapazes cresceram em um ambiente de guerra. Eles não conhecem seus próprios direitos. Como podemos esperar que conheçam os de suas irmãs, suas mães ou suas mulheres? Se eles usam jeans e têm cortes de cabelo ocidentais, não quer dizer que sejam progressistas."

A censura, especialmente quando se trata de ofensas religiosas, provoca pouca revolta entre os jovens. Muitos consideram a democracia um instrumento do Ocidente. A vasta maioria dos afegãos ainda acredita na justiça tribal, considerando os tribunais meros locais de extorsão.

Em uma tarde recente, jovens mulheres se reuniram em um salão de casamento, suportando o calor sufocante em niqabs (túnicas longas) pretas para protestar contra uma proposta de lei que define os direitos das mulheres afegãs. Os homens ficaram do lado de fora, formando uma barricada para evitar a entrada de estranhos no salão.

"Esta lei não é apenas contra os valores islâmicos, também é contra todos os outros valores éticos", disse uma manifestante, Saida Hafiz, para um público de cerca de 200 moças e crianças reunidas na sala. "Se continuarmos em silêncio hoje, logo nossa sociedade estará moralmente corrompida, como a do Ocidente."

Trajetos de táxi em grupo (lotações), que funcionam como o sistema de transporte de fato de Cabul, oferecem uma visão sem filtros da perspectiva local. A bordo, homens de todas as idades falam abertamente sobre tudo, da política ao tráfego.

Em uma noite recente, enquanto uma minivan seguia em ziguezague pelas estradas esburacadas, os homens conversavam sobre uma recente briga entre duas parlamentares, que atiraram os sapatos uma na outra.

"Quem deixou essas mulheres entrarem no Parlamento?", disse um homem idoso ruivo, de olhos azuis, com os joelhos pressionados contra o peito. "As mulheres deveriam ficar em casa."

O jovem sentado ao lado dele, segurando livros no colo e vestindo camiseta azul e calça cinza, balançou a cabeça em assentimento.

Protestos proliferaram nos dias seguintes à proposta da lei sobre os direitos das mulheres. Embora os legisladores a tivessem bloqueado quase imediatamente, os apoiadores prometeram reapresentar a legislação. A medida inclui proteções contra o casamento de crianças, a poligamia e a violência contra mulheres.

Mohammad Taib, 19, disse que o projeto está em conflito com o islã. "Os que pressionam pela aprovação da lei o fazem para deixar os ocidentais felizes", disse Taib. "Os que têm ideias independentes são estritamente contra ela."

Cabul não deixa de ter bolsões progressistas. Grupos como o Afeganistão 1400, que reúne jovens líderes comprometidos com as mudanças sociais e políticas, muitas vezes são citados como a vanguarda do ativismo cívico.

Locais de trabalho empresariais também se tornaram surpreendentes espaços de teste para o ativismo silencioso. Na Tolonews, uma das maiores organizações noticiosas da TV afegã, homens se veem trabalhando para mulheres, enquanto as realidades econômicas invertem a dinâmica social.

Isso reflete em parte o que alguns observadores chamam de abismo entre o comportamento público e o privado de muitos afegãos, que não são tão conservadores quanto parecem. "Nossas tradições e convenções nos dizem uma coisa, e as realidades em campo dizem outra", afirmou Saad Mohseni, fundador da Tolonews. "As pessoas agem de maneira muito diferente daquilo que dizem."


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