São Paulo, segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Corvos sabem fabricar ferramentas

Por NATALIE ANGIER
Os corvos da Nova Caledônia são famosos por fabricar ferramentas. Ao utilizá-las, com complexidade, fluidez e sofisticação, os corvos não têm comparação no mundo animal, incluindo elefantes, macacos e chimpanzés.
Em um famoso estudo da Universidade de Oxford, uma fêmea metodicamente dobra um pedaço de arame contra a parte externa de um cilindro de plástico para formar um anzol, que ela insere no cilindro para extrair um alimento.
O que torna os corvos tão inteligentes? Novos relatos nas revistas "Animal Behaviour" e "Learning and Behavior" de pesquisadores da Universidade de Auckland (Nova Zelândia) sugerem que a fórmula pode ser semelhante à dos seres humanos: dê aos seus rebentos uma infância prolongada em lar estável e amoroso; lidere através do exemplo; ofereça reforços positivos; seja paciente e persistente; mime de vez em quando colocando um inseto fresco em sua boca; e lembre que, a qualquer momento, uma águia pode pôr fim a todo o programa.
Ao estudar a estrutura social e o comportamento dos corvos e detalhes de suas vidas difíceis, os pesquisadores esperam adquirir novas visões sobre a evolução da inteligência, a interação entre habilidade física e social e a relativa importância de cada força seletiva para promover a necessidade de um grande cérebro animal.
"É um grande quebra-cabeça", disse Russell D. Gray, diretor do laboratório de Auckland. "Por que esta espécie em uma pequena ilha do Pacífico é capaz de não apenas usar, mas fabricar uma diversidade de instrumentos de maneira flexível, e não rotineira ou programática?"
Se as aves aprendem a evitar buracos e obstáculos no ambiente experimental de uma caixa de plástico, por exemplo, elas evitarão buracos e barreiras nas condições diferentes de uma mesa de madeira. "Conhecer sua estrutura social é uma parte do quebra-cabeça", disse Gray.
O corvo moderno da Nova Caledônia, uma das cerca de 700 espécies de corvídeos, tem 30 centímetros de comprimento e pesa 340 gramas em média; uma variedade mediana, muito menor que o corvo comum, mas mais robusto que uma gralha ou que o corvo europeu. O tamanho do cérebro é outra história.
"Evidências preliminares sugerem que o cérebro do Nova Caledônia é grande mesmo para um corvídeo", diz o doutor Gray. Seus bicos também são excepcionais, "mais parecendo um polegar humano".
"Quando eu os observava, eles pareciam pegar um galho sempre que pareciam não entender alguma coisa", disse Anne Clark, que estuda os corvos americanos na Universidade Estadual de Nova York em Binghamton e que também observou corvos da Nova Caledônia em campo.
Esses pássaros são incansáveis fabricantes de instrumentos. Eles encontram exatamente os galhos certos, os quebram e, então, torcem suas pontas, fazendo ganchos aguçados. Rasgam faixas das bordas de folhas de pandanos e então moldam as tiras em elegantes pontas farpadas.
Com seus bicos e garras eles extraem vermes, insetos e outros invertebrados de fendas profundas.
Ao pesquisar os padrões deixados pelos corvos nas folhas de pandanos, Gavin Hunt, da Universidade de Auckland, determinou que os estilos de fabricação de ferramentas variam de um lugar para outro, e esses estilos permanecem estáveis. Em suma, os corvos da Nova Caledônia têm uma espécie de cultura.
Ao estudar sua vida social, Jennifer C. Holzhaider, principal autora dos estudos da Universidade de Auckland, e sua equipe confirmaram observações anteriores de que esses corvos adotam uma organização familiar nuclear. Machos e fêmeas permanecem juntos durante o ano todo.
Os pássaros jovens ficam com seus pais durante dois anos ou mais -uma dependência muito extensa pelos padrões das aves- e buscam alimentos juntos, em família.
Os jovens são "incrivelmente persistentes, rasgando e picando com vigor as folhas de pandano", disse a doutora Holzhaider, "mas até os seis meses não conseguem fazer uma ferramenta".
Os pais entram em ação, oferecendo alimentos que obtiveram com suas ferramentas requintadas.
"Ao ver seus pais arrancar um verme de uma árvore, eles aprendem que lá existe algo que vale a pena buscar", ela disse. "Isso os mantém ocupados."


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