São Paulo, segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

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Mantendo a pressão no Chile

Por HENRY FOUNTAIN
Quando um terremoto de magnitude 8.8 atingiu o litoral do Chile em fevereiro passado, geofísicos e sismólogos não se surpreenderam. O epicentro do terremoto foi em uma faixa de aproximadamente 322 km de uma falha onde as tensões vêm se acumulando há quase dois séculos. Os especialistas esperavam que um dia a tensão fosse aliviada em um evento cataclísmico.
Mas os cientistas concluíram que o movimento durante o terremoto não aliviou as tensões como se previa.
O maior deslizamento sísmico foi fora do segmento de 322 km conhecido como falha de Darwin (porque Charles Darwin testemunhou o último terremoto nessa região, em 1835).
"O padrão do deslizamento foi muito diferente do que se esperava", disse Stefano Lorito, um geofísico do Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia, em Roma. Enquanto houve uma área do deslizamento dentro da falha de Darwin, ele disse, a área de maior movimento foi ao norte, no lugar onde ocorreu um terremoto de 8.0 em 1928.
Para o doutor Lorito, as descobertas mostram que "existe uma fração da falha que provavelmente não se rompeu". Além disso, ele explicou, o abalo de 2010 pode ter aumentado a tensão na área sem ruptura, reforçando as probabilidades de outro grande terremoto.
Lorito é o principal autor de um trabalho publicado na revista "Nature Geoscience" que descreve os padrões de deslizamento com base em análises de observações de tsunâmis e dados de deformação de terra obtidos por GPS e sensores em satélites. Em uma reunião recente da União Geofísica Americana, cerca de outros 12 padrões de deslizamento foram apresentados, segundo Onno Oncken, um geofísico do Centro de Pesquisa de Geociências em Potsdam, Alemanha.
O próprio doutor Oncken foi um dos autores de um estudo que mostrou um padrão de deslizamento diferente. Seu estudo analisou apenas dados sísmicos do evento -gravações das ondas de choque que não mostram como a terra se deformou. Ele disse que já se previa a mudança de padrões quando dados de GPS e de outras deformações fossem analisados.
"Estamos aprendendo cada vez mais, quase diariamente", disse o doutor Oncken. "Espero que este seja o grande terremoto mais bem observado que já tivemos."
Quanto à sugestão do doutor Lorito de que o abalo de 2010 pode ter aumentado as probabilidades de outro, Oncken disse que há relativamente poucos dados da área onde se prevê um novo terremoto. "Pessoalmente, eu não teria ousado fazer uma declaração tão forte", ele disse.
O terremoto, que matou mais de 500 pessoas, ocorreu em uma zona de subducção, lugar onde uma placa tectônica desliza por baixo de outra. Neste caso, a placa de Nazca está deslizando para leste por baixo da placa Sul-Americana a uma velocidade de cerca de 7,6 centímetros por ano. O movimento faz as tensões se acumularem no limite das placas. No abalo de 2010, essas tensões foram aliviadas quando a borda ocidental da placa Sul-Americana subitamente se moveu para oeste e para cima. Como grande parte do movimento foi submarina, o terremoto provocou um tsunâmi que foi responsável por muitas mortes.
Jian Lin, um geofísico do Instituto Oceanográfico Woods Hole, em Massachusetts, disse que, embora os vários padrões de deslizamento apresentados até agora sejam, às vezes, divergentes, os pesquisadores concordam que o deslizamento ocorreu em dois trechos, um ao norte do epicentro e um ao sul. O abalo começou no epicentro, mas a maior parte da ruptura ocorreu em outros lugares.
"O trecho sul de fato preencheu parte da falha de Darwin", disse o doutor Lin. "É aí que os modelos diferem -alguns modelos têm mais deslizamento no trecho sul, outros têm menos. Mas eu acho que, em todos os modelos, parte da falha de Darwin permanece."
O doutor Lin disse que as discrepâncias mostram que ainda não há dados suficientes. "Grande parte do terremoto ocorreu embaixo d'água, e ali não temos instrumentos", ele disse.
"Esta é a hora de colocar instrumentos no oceano", acrescentou. "Se não o fizermos, teremos exatamente o mesmo problema na próxima vez."


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