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Antônio Góis

Miopias

RIO DE JANEIRO - "Dono de uma das piores distribuições de renda do mundo, o Brasil, mesmo sendo uma das dez maiores economias industriais, ocupa a sofrível 73ª posição no ranking mundial do IDH."

Assim começa estudo de 2002 da Secretaria Municipal do Trabalho de São Paulo. A prefeita era Marta Suplicy e o secretário, Marcio Pochmann, hoje presidente do Ipea.

Neste mês, a ONU divulgou novo índice de Desenvolvimento Humano, com o Brasil em 84º lugar (a ampliação do número de países e as mudanças metodológicas não permitem comparação com 2002).

O ex-presidente Lula não gostou e, tal como faziam tucanos no passado, cobrou reação do governo. O Ipea divulgou nota criticando o índice.

O IDH, porém, não é um bom instrumento para avaliar governos, pois variáveis como expectativa de vida e escolaridade média variam pouco de um ano para outro. Elas refletem muito mais erros e acertos do passado do que políticas do presente.

Mas, todo ano, o índice da ONU é usado para julgamentos de curto prazo, forçando os dados na direção de convicções ideológicas.

Um estudo de Michael Traugott, da Universidade de Michigan, ajuda a entender o comportamento. Ele investigou como os americanos interpretavam resultados de pesquisas em temas polêmicos.

Traugott apresentou aos entrevistados duas pesquisas fictícias. Uma tinha o nome de um instituto respeitado, e a outra era de uma empresa desconhecida, financiada por alguma organização com interesses no tema investigado.

A conclusão foi que pouco importava a credibilidade do instituto. Se o resultado combinava com a opinião pessoal, as pessoas acreditavam. Se contrariava, desconfiavam.

Como escreveu Drummond, a verdade é sempre vítima de nossos caprichos, ilusões e miopias.

antonio.gois@grupofolha.com.br

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