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Opinião

Encarar a mente como máquina é mais um dogma do que ciência

LULI RADFAHRER COLUNISTA DA FOLHA

A conquista da Lua estimulou a imaginação de muita gente. Se foi possível colocar um humano em outro corpo celeste, não tardaria para que Marte fosse conquistado e, lá pelo ano 2000, colônias por todo o Universo estivessem em andamento. Boa parte da ficção científica se inspirou nela, mais preocupada com questões humanas (deslumbramento, isolamento, choque cultural) do que com a parte técnica. Hoje isso acontece com a "singularidade".

O cérebro humano ainda é uma grande incógnita. Por mais que a força bruta do desenvolvimento tecnológico leve a crer que seja possível reproduzi-lo, ainda não se chegou a um consenso a respeito do seu funcionamento. Sem saber o que é inteligência, como separá-la em camadas e decompô-la em módulos, não será possível controlá-la, melhorá-la ou dar a ela qualquer aplicação prática.

Quando se compara o cérebro a um computador, o que é comparado? Em termos de hardware, sua estrutura muda segundo o contexto, a emoção e a utilização da informação recebida. Em software, como medir sua capacidade? Pelo QI? Talento? Memória? Empatia? Agilidade? Aprendizado? Como mensurar a inteligência emocional e outras tantas propostas por teóricos como Howard Gardner?

Para piorar, mudanças anatômicas ou bioquímicas no cérebro alteram completamente alguns processos mentais enquanto mantêm outros inalterados, como bem o sabe quem acorda com vergonha do que fez, alcoolizado, na noite anterior. Isso não acontece em um computador, muito pelo contrário. Os algoritmos que conhecemos funcionam sempre da mesma maneira, pouco importa a máquina em que estejam. Seu Excel pode ser mais lerdo, mas ainda é um Excel.

A metáfora da mente como máquina está mais para dogma do que para ciência. Como um fractal, que imita a forma de planta mas não é vivo, a "inteligência artificial" ainda não é capaz de compreender o que faz. A ideia de que a vida seja computável é um velho resquício taylorista, do qual IBM e Google --não por coincidência principais patrocinadores da tecnologia-- são grandes adeptos.

Máquinas "espertas" são fundamentais para o progresso, mas ainda estão longe de se tornar conscientes. Deixarão o mito de uma singularidade mais próximo. Mas, como todo mito, intangível.


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