São Paulo, quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

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"Boom" no turismo com casamentos reais é questionado

Órgão oficial tem dados internos que contradizem suas declarações públicas de previsão de ganhos no setor

O grupo Republic, que defende eleições diretas para chefe de Estado no Reino Unido, obteve e-mail contraditório

DO "GUARDIAN"

Com o Reino Unido atolado na obscuridade econômica, o anúncio do noivado do príncipe William e Kate Middleton prometeu um vislumbre de esperança.
Choveriam turistas estrangeiros, segundo a teoria do governo britânico, e o premiê David Cameron sancionou um plano de 50 milhões para usar o evento para vender o Reino Unido como "o destino perfeito", juntamente com o Jubileu de Diamante da rainha e a Olimpíada de Londres, em 2012.
Porém, um alto funcionário do turismo avisou privadamente que evidências apontam que visitantes devem ficar longe do Reino Unido em torno de 29 de abril, data do casamento real.
Correspondência interna obtida do Visit Britain (www.visitbritain.com), o órgão oficial de fomento de turismo britânico, revelou que espera-se que o número de visitantes caia, apesar de afirmações de que o evento incentivaria o turismo.
Sandie Dawe, chefe-executiva do Visit Britain, prometeu que o casamento real iria trazer "um bem-vindo impulso não só à indústria do turismo em Londres, mas no Reino Unido". Isso iria criar um "efeito halo" até 2012. "A monarca gera mais de 500 milhões por ano, direta e indiretamente, de turistas estrangeiros, mas o benefício de um casamento real deve ultrapassar isso".
Dois dias depois que o noivado foi anunciado, o chefe de pesquisas e previsões do Visit Britain, David Edwards, enviou aos colegas um e-mail com o que descreveu como "evidências mais reais".
"Se olharmos para o casamento de Andrew e Sarah (1986), ao longo do ano houve 4% menos visitantes que em 1985, mas em julho de 1986 tivemos 8% menos visitantes que no mesmo mês de 1985", disse. "Enquanto esses dados e os resultados de 1981 [casamento de Charles e Diana] são inconclusivos, a evidência mostra casamentos reais como tendo impacto negativo no turismo".
O número de turistas estrangeiros em julho de 1981, na união de Charles e Diana, foi 15% menor que a média do mesmo mês de 1980 a 1985, segundo a Secretaria de Estatísticas Nacionais.
A visão interna surgiu de e-mails obtidos sob a Lei de Acesso à Informação pelo Republic, que defende eleição direta para chefe de Estado no Reino Unido. O grupo se preocupa que o Visit Britain tenha feito afirmações não comprovadas.
Questionado sobre a aparente discrepância entre declarações públicas e a visão interna, o Visit Britain disse acreditar que o maior efeito virá no longo prazo, com mais visitantes planejando viagens após ver o evento na TV. "Será como uma amostra do Reino Unido que resultará em visitantes nos anos subsequentes", disse Dawe.
Graham Smith, do Republic, acusou o órgão de promoção sem fundamento da monarquia. "O Visit Britain deveria ser um órgão de turismo independente, e ainda assim aparentemente contradisse sua evidência interna para participar dessa ficção de que a monarquia -e especificamente o casamento- é um impulso para o turismo".


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