São Paulo, domingo, 06 de outubro de 2002

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COMPORTAMENTO

Há quem gaste até R$ 50 mil para pôr DVD, videogame e alterar a parte externa e o motor do veículo

Massagem no ego é prêmio para quem superequipa o carro

Fernando Moraes/Folha Imagem
O adepto do "tuning" Luiz Carlos de Carvalho Júnior mostra a entrada de ar com acrílico no capô de seu Audi A3


GEORGIA NASCIMENTO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

"Não pensei que o carro fosse ficar assim. Quando a gente começa, não sabe onde vai parar." A frase de Luiz Carlos de Carvalho Júnior, 20, é repetida por vários outros adeptos do "tuning".
Em inglês, a palavra significa "ajustar". E é mais ou menos isso o que eles dizem fazer: modificam o carro para melhorar sua performance e seu visual ou, como preferem falar, "torná-lo perfeito".
A preferência é por veículos com mais de um ano. Mas, no mundo do "tuning", isso não importa: como o objetivo é modificar o carro todo, o que vale é o estado, não o ano de fabricação.
Carvalho calcula que já gastou por volta de R$ 50 mil no seu Audi A3. Entre outros acessórios, o carro possui DVD com duas telas, videogame, néon, motor aditivado por óxido nitroso (chamado somente de "nitro") e entrada de ar com acrílico no capô.
Para ele, chamar a atenção é consequência: "Todo mundo vem ver quando paro. Equipo porque gosto, mas certas coisas, como o videogame, é mais para mostrar, porque eu nunca jogo".

Vício
"Antes não gostava muito, mas, depois do filme "Velozes e Furiosos", comecei a equipar, andar com uma turma que também gosta e não consegui mais parar", conta Samuel Barros, 24, dono de uma perua Passat Variant com o sistema de freios e rodas da Porsche e interior personalizado.
O filme, um "thriller" de ação que retrata o mundo dos rachas e corridas, é uma das unanimidades para quem gosta de "tuning".
Segundo Michael Duwe, 25, do site www.allmotors.com.br, os aficionados por "tuning" são na maioria homens, de todas as idades e das classes média e alta.
Alguns são discretos e preferem não aparecer. Outros se encontram em turmas nas quais, além de "tuning", o assunto é mulher.
"Tem menina que adora carro equipado. E, depois de dar uma voltinha, você acha que ela vai ficar lá, só esquentando o banco?", pergunta um deles. Quando questionados sobre se não temem que elas só estejam interessadas no carro, dizem: "É uma troca. Elas querem o carro, nós, outra coisa".
Com jeito de especialistas, muitos donos de carros equipados ressaltam a importância de adaptar o conjunto do veículo, incluindo a suspensão e os freios, para motores mais potentes.
"Não adianta você ter um carro que corre se não consegue dominá-lo", diz Marcelo Alves, 28, dono de um Astra turbinado.
Alves aprendeu isso na prática. Aos 18, ganhou um Gol do pai e, após equipá-lo, teve perda total numa colisão. Por causa das modificações, o seguro não cobriu.
A fiscalização é apontada como o maior problema para os amantes do "tuning": "É quase impossível legalizar, então não pego mais estrada", conta Alves, que já teve de pagar R$ 2.300 de uma vez em multas, ao ser parado pela polícia. "Só não apreenderam o carro porque minha mãe estava junto, e o guarda ficou com pena."


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