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São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2003

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REABILITAÇÃO

Funcionários de Centros de Formação de Condutores de SP dizem que ajudam em aprovação; empresas desmentem

Em reciclagem, infrator tem vida fácil

CHRISTOPHER LANGNER
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Criados com o intuito de reeducar, alguns CFCs (Centros de Formação de Condutores) de São Paulo transformaram o curso de reciclagem para motoristas com carteira suspensa em mera formalidade na qual a aprovação é praticamente garantida.
É o que ocorre, por exemplo, no CFC Ibirapuera. Questionado sobre a dificuldade da prova, o coordenador José Roberto Marques responde: "O professor dá uma boiada [facilidade]. Ninguém foi reprovado". No CFC do Futuro, a atendente Vanessa informa, por telefone: "A professora auxilia todo mundo na hora da prova".
"Há uma fragilidade na fiscalização do Detran [Departamento Estadual de Trânsito], que deveria acompanhar a prova", afirma Magnelson Carlos de Souza, presidente do Sindicato das Auto-Escolas e Centros de Formação de Condutores de São Paulo.
Douglas Brandão Costa, delegado-assistente da Divisão de Habilitação do Detran, discorda e explica que todas as turmas recebem uma visita surpresa de um fiscal do Detran em pelo menos um dia de aula. "Alguns CFCs são fiscalizados no dia da prova."
Costa admite, contudo, que, como o teste costuma ser dado após o período do curso, nem sempre é possível acompanhar sua aplicação. "Não tem como. Há várias turmas terminando ao mesmo tempo", justifica.
O curso de reciclagem é ministrado gratuitamente pelo Detran, mas a espera por uma vaga pode chegar a três meses. Por isso os CFCs também podem oferecê-lo, desde que se cadastrem e obedeçam às normas da portaria 165, do Detran. Ela determina, entre outras coisas, a duração em horas do curso e o direito do aluno de fazer um segundo teste caso seja reprovado em alguma disciplina.
É na segunda chance que alguns CFCs demonstram sua generosidade. Eles "ajudam" os clientes aplicando as mesmas questões apresentadas na primeira vez. O Viatran é um exemplo. Questionada sobre o segundo teste, a recepcionista Adriana Kopezynski explica: "É a mesma prova, igualzinha [à primeira]".
Em outras instituições, o direito de outra prova é omitido. É o caso do CFC Pronatran. Por telefone, a atendente Andréa Roberta de Souza informa: "Quando [o aluno] é reprovado, tem de fazer o curso todo novamente". O diretor de ensino Francisco Elói de Santana Jr. confirma: "O aluno não tem direito a outro teste. Se reprovar na primeira prova, deve pagar a taxa e refazer o curso".

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