Folha de S.Paulo

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Jogadores e torcedores uruguaios comemoram o título

Exceto pelos 11 jogadores para cada lado em um campo de jogo retangular, com milhares de pessoas enlouquecidas torcendo em volta, condições que não mudaram até hoje, a primeira Copa do Mundo não guarda quase nenhuma semelhança com o megaevento ultraprofissional que se vê hoje. O torneio idealizado por Jules Rimet reuniu 13 times e só quatro europeus se dispuseram a fazer a longa jornada de navio. Os jogos foram disputados em apenas três estádios, todos em Montevidéu, e o Centenário só ficou pronto no decorrer da competição. Os jogos não começavam no horário e os gramados eram constantemente invadidos, inclusive determinando o fim de algumas partidas. Os jogadores, sem números nas camisas, chegavam a deixar o campo para descansar sem que o árbitro percebesse. Liderado por Andrade, conhecido como Maravilha Negra, o então bicampeão olímpico Uruguai atropoleu seus rivais e na final reeditou a decisão da Olimpíada de Amsterdã-1928 com a Argentina. O jogo decisivo foi tão pitoresco quanto o restante do campeonato. O primeiro tempo, jogado com bola argentina, terminou com vantagem de 2 a 1 para o time visitante. Na segunda etapa, com bola uruguaia, os donos da casa viraram para 4 a 2, com direito a gol de Castro, atacante que só tinha um braço, e levantaram a primeira taça mundial.

Brasil

A seleção brasileira enviada para a disputa da Copa de 1930 foi prejudicada por uma briga interna com a CBD (Confederação Brasileira de Desportos) que deixou os jogadores paulistas fora do time, incluindo o astro Friedenreich. O único atleta de São Paulo a jogar o torneio foi Araken Patuska, que havia brigado com seu clube, o Santos. Diversos jogadores de times hoje considerados pequenos ou extintos no Rio, como São Cristóvão, Canto do Rio e Ipiranga de Niterói, cederam jogadores à equipe. O grande destaque foi o atacante Preguinho, do Fluminense, filho do escritor Coelho Neto, que marcou três dos cinco gols brasileiros na competição. Prejudicado pela falta de tempo de preparação, pelo forte frio da capital Uruguaia, em que chegou a nevar, e praticamente sem nenhuma experiência internacional, ao contrário de Uruguai e Argentina, que vinham de uma decisão olímpica, o Brasil foi eliminado logo na primeira fase, com uma derrota para a Iugoslávia por 2 a 1 - jogo em que Preguinho marcou o primeiro gol do país em Copas - e uma vitória sobre a fraca Bolívia por 4 a 0. Terminou em sexto lugar na classificação final, atrás de Estados Unidos, Iugoslávia e Chile. Hoje conhecido e temido mundialmente por sua tradicional camisa amarela, o Brasil jogou a Copa do Uruguai com camisas brancas de golas e punhos azuis e calções azuis.

Curiosidades

• O primeiro gol das Copas foi marcado pelo francês Lucien Laurent na vitória sobre o México por 4 a 1. O jogo foi realizada no estádio de Pocitos porque o Centenário não estava pronto.
• Cerca de 30.000 argentinos cruzaram o Rio da Prata para assistir à final em Montevidéu, no dia 30 de julho de 1930. O estádio Centenário ficou lotado com cerca de 80.000 torcedores.
• Hector Castro, que marcou gol na final, havia perdido um braço em acidente na infância. O "Manco", como era conhecido, vivia tentando esconder o defeito nas fotos tiradas com o time.
• Três das quatro seleções europeias, França, Bélgica e Romênia, viajaram no mesmo navio, o SS Conte Verde, que ainda parou no Rio de Janeiro para pegar a seleção brasileira.
• A 1ª polêmica de arbitragem aconteceu quando o brasileiro Almeida Rego apitou fim de jogo seis minutos antes do tempo no jogo Argentina 1 x 0 França. O jogo teve que ser reiniciado.
• Artilheiro da Copa, o argentino Stábile entrou no time só no segundo jogo, graças à ausência de Manuel Ferreria, que desfalcou sua seleção devido a uma prova na faculdade.