Estive no
show de Caetano Veloso em São Paulo e notei que, apesar
do alto preço dos ingressos, todos os lugares estavam
ocupados --apenas preço do estacionamento era de R$
25. Daí se vê o absurdo de uma possível
concessão de R$ 2 milhões à turnê
nacional desse espetáculo, graças à Lei
Rouanet.
Não me senti jogando dinheiro fora ao pagar o alto
valor dos ingressos. Muito pelo contrário: Caetano
é um talento extraordinário. Mas sinto que meu
dinheiro está sendo jogado fora quando recurso público
acaba patrocinando esse tipo de evento.
Caetano ajuda a sintetizar meu incômodo com a Lei Rouanet,
que o governo pretende reformar. A concessão do incentivo
fiscal, como muitos outros incentivos públicos, para
a cultura muitas vezes reforça a lógica da desigualdade
do país. Faria mais sentido se Caetano, assim como
as celebridades artísticas, recebesse o dinheiro em
troca não apenas de ingressos gratuitos, mas de oficinas
culturais ou aulas-espetáculo. Em poucas palavras,
a concessão do benefício estaria condicionada
a algum projeto pela melhoria da educação pública.
Todos sairiam ganhando com essa troca: os estudantes mais
pobres teriam a chance de uma inesquecível aula-espetáculo.
E o artista teria, além do apoio financeiro, o prazer
de compartilhar sua experiência com quem dificilmente
assistiria ao seu espetáculo.
***
Para ver o poder da arte como gancho de aprendizado, coloquei
no catracalivre.com.br
trechos de um livro ("O Clube do Filme") em que
um pai, desesperado com o desempenho escolar do filho, aceita
que ela deixe de ir para escola em troca de assistir e debater
todos os dias um filme.
Coluna originalmente publicada na
Folha Online, editoria Pensata.
|