Empresários
criam grupo de trabalho para estudar alternativas que possibilitem
ao País ter mais mobilidade
Desde o início do ano, os brasileiros já compraram
1,72 milhão de carros novos, volume 27% maior que o
de 2006. São 380 mil veículos a mais nas ruas.
Ao mesmo tempo em que a indústria comemora recordes,
cresce a percepção de que o País não
tem infra-estrutura para continuar crescendo nesse ritmo.
A continuar nessa velocidade, o drama diário dos congestionamentos
pode deixar de ser visto como sinal de vigor econômico
e transformar-se em fator de ameaça aos investimentos.
O problema agravou-se de tal forma que motivou a criação
de um grupo de empresários que vai propor projetos
para o País melhorar sua mobilidade. As propostas vão
da melhor eficiência do transporte público à
novas tecnologias para os carros, como um sistema via satélite
que informa sobre acidentes segundos após a ocorrência.
O grupo, coordenado pela Associação Brasileira
de Engenharia Automotiva (AEA)trabalha em parceria com a Ertico,
entidade da Europa que faz diagnósticos e financia
projetos na área de trânsito. Em 2006, a entidade
formada por representantes dos governos dos países
da União Européia e empresas privadas criou
o Projeto Simba, uma rede de cooperação internacional
para pesquisas em países emergentes.
''A falta de mobilidade pode afastar investimentos de uma
cidade'''', diz a gerente de projetos da Ertico, Mariana Behr
de Andrade. Ela está no País para participar,
quinta-feira, do Simpósio Internacional de Engenharia
Automotiva no qual serão apresentados projetos para
melhorar o trânsito em São Paulo. Além
do Brasil, o Simba envolve a África do Sul, China,
Índia e Rússia, que enfrentam problemas similares.
''''É possível que um mesmo projeto seja aplicado
em vários países'''', diz Daniel Zacarias, da
AEA, e responsável pelo Simba no País.
Entre as empresas que participam do projeto no Brasil estão
Volkswagen, Ford, GM, Fiat, Magneti Marelli, Siemens, Visteon,
Delphi, Porto Seguro e as universidades USP e UFRJ.
A Ertico tem 4 bilhões para aplicar em projetos nesses
países e na Europa. Uma das propostas a serem apresentadas
no seminário é a da Companhia de Engenharia
de Tráfego (CET)sobre informações de
trânsito em tempo real. A idéia é espalhar
painéis em pontos estratégicos da cidade, parecidos
aos já disponíveis em estradas, com informações
sobre congestionamentos, acidentes e indicações
de rotas alternativas. Na Europa, os motoristas recebem essas
informações no próprio computador de
bordo do automóvel, solução que poderá
ser adotada no Brasil futuramente.
''''Vamos avaliar as ações que poderão
ser implantadas a partir de 2008'''', afirma Mariana. Ela
reconhece que muitas medidas dependem de infra-estrutura e
dos governos locais, mas há projetos que podem ser
feitos em parceria e outros que são de interesse da
própria iniciativa privada.
CHAMADA DE EMERGÊNCIA
Outro projeto que será apresentado é o da instalação
nos automóveis do sistema denominado E-call (chamada
de emergência). ''''É uma caixa preta que informa
imediatamente a uma central que houve um acidente. A central
repassa a informação ao órgão
competente e este providenciará o socorro'''', diz
Ricardo Takahira, engenheiro da Magneti Marelli, empresa que
já produz o sistema na Europa, onde a instalação
nos carros será obrigatória a partir de 2010.
O sistema reconhece o acidente por ser conectado a equipamentos
como air bag (que dispara quando ocorre acidente) e sensor
inercial (corta a alimentação da bomba de combustível).
O software repassa a informação por meio de
GPS de navegadores e GSM de celulares.
Segundo Takahira, o E-call utiliza a mesma tecnologia que
será adotada para a instalação de dispositivos
de localização que serão obrigatórios
nos carros brasileiros a partir de 2008, o que pode reduzir
o custo de instalação. O E-call, reforça
o engenheiro, não vai evitar o acidente, mas o socorro
rápido pode diminuir mortes e seqüelas.
No Brasil, os custos anuais de acidentes de trânsito
são estimados em R$ 28 bilhões. Os dados apontam
para 34 mil mortes ao ano, 100 mil pessoas com deficiências
temporárias ou permanentes e 400 mil feridos.
Na Europa, onde há transporte público eficaz
e os carros são mais seguros, 45 mil pessoas morrem
ao ano em acidentes. ''''Em 1990 eram 70 mil mortes, mas há
compromisso dos governos em adotar medidas para reduzir o
índice à metade até 2010'''', diz Mariana.
O Estado de S.Paulo
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