Brasil
se une a países contra bebida
Bloco com 40 membros da Organização Mundial
de Saúde quer aprovar resolução com metas
de redução do consumo
O Brasil aliou-se a 40 países que pedem a criação
de uma estratégia global para reduzir o consumo de
álcool. Representantes da fabricante de cerveja Ambev
chegaram a ir até Genebra, onde a proposta será
debatida pela Organização Mundial da Saúde
(OMS), para pressionar contra sua implantação.
O principal responsável pela formação
do grupo é o governo da Suécia. “Somos
favoráveis à proposta, já que vai na
linha de nossas atuações”, disse ao Estado
o ministro da Saúde, José Gomes Temporão.
A intenção é que a política antiálcool
se torne marca da gestão de Saúde no governo
Lula, assim como a política antitabagista se tornou
bandeira do governo de Fernando Henrique Cardoso (leia texto
abaixo).
Países como Itália, Irlanda, China e Rússia
também apóiam a proposta, que será votada
na próxima semana. Segundo o texto, o consumo excessivo
é responsável pela morte de 2,3 milhões
de pessoas por ano.
O documento cita estudos da Agência Internacional de
Pesquisa sobre o Câncer que apontam relação
direta entre o etanol em bebidas alcoólicas e tumores
malignos.
Para lidar com o problema, o grupo sugere que a OMS crie
um plano global para reduzir os efeitos do álcool,
que teria de estar concluído e ser apresentado aos
governos em maio de 2008.
Outra sugestão é a criação de
um sistema de monitoramento do consumo de álcool nos
países, assim como de suas conseqüências
sociais e para a saúde, e o estabelecimento de metas
para redução do uso de bebida.
Mas nem todos estão de acordo. Os países do
Caribe que produzem rum, como Cuba, já se declararam
contrários. O governo americano deu indicações
ontem, em uma reunião privada, de que poderá
apoiar a resolução. Mas, para isso, alguns pontos
terão de ser retirados. Um deles seria a menção
ao estudo indicando que a bebida pode causar câncer.
O Brasil apóia a retirada desse item.
A atitude do Brasil de aliar-se ao grupo chamou a atenção
das empresas. O Estado apurou que a Ambev enviou representantes
a Genebra nas últimas semanas para fazer lobby junto
à diplomacia brasileira. O governo também recebeu
a visita de entidades internacionais de fabricantes de bebidas.
O pedido das companhias era sempre o mesmo: evitar que temas
como o aumento de impostos ou a limitação da
publicidade de bebidas alcoólicas entrem no texto final
que será encaminhado à votação.
REAÇÃO PRONTA
Quanto à política nacional para o setor,
o ministro da Saúde garante que o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva fará o anúncio da estratégia
brasileira “em breve”. Mas o superintendente do
Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv),
Marcos Mesquita, afirmou que “três minutos depois”
da publicação da regulamentação
sobre a propaganda de bebida da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa), ele já
terá pronta uma Ação Indireta de Inconstitucionalidade
para ser interposta na Justiça. “Já tenho
tudo pronto, é só escrever”, afirmou o
superintendente do sindicato, que representa as companhias
responsáveis por 98% da cerveja produzida no Brasil.
Para Mesquita, a ênfase do governo em ingressar com
uma ação de restrição da propaganda
de bebidas alcoólicas como cerveja e vinho é
fruto da falta de informação. “O ministro
está mal informado ou mal assessorado”, avaliou.
“Experiências em outros países demonstram
que a restrição da propaganda não altera
o mercado consumidor de bebida”, completou.
Ele justifica os pesados recursos investidos pelo setor em
propaganda à disputa entre as marcas pela preferência
do consumidor. “As indústrias trabalham pela
conquista de uma fatia de consumidores. Vários estudos
mostram que o mercado não se expande pela propaganda,
e sim por outros fatores, como preço”, disse.
“O governo usou a ferramenta inadequada. Se há
interesse em fazer a restrição, por que não
incentivar a votação de um dos 120 projetos
sobre propaganda de bebida que tramitam no Congresso?”,
questionou.
Jamil Chade
O Estado de S.Paulo |