Pelo terceiro ano consecutivo, Átila Almada vai abrir
as comemorações do aniversário da cidade
na Casa das Rosas
Heitor Augusto
Mais que os lugares que já se tornaram símbolos
de São Paulo, a maior motivação da obra
de Átila Almada, jovem poeta paulistano de 21 anos,
são as pessoas e situações que compõem
as várias facetas da cidade. O executivo que repousa
o paletó aos pés da cama no fim do dia, os bêbados
que filosofam pelas esquinas, as múltiplas cores das
capas de CDs dos camelôs, o Zé das Couves que
se desdobra em dez Zés para sobrevier, por exemplo,
já foram alvo das poesias de Almada.
O caráter cosmopolita da cidade é visto por
ele com um olhar particular, filtrando os excessos e se concentrando
em quem constrói a paisagem da metrópole. “Gosto
ou do muito esquisito, que destoa totalmente, ou do comum,
pois posso tirá-lo do banal e descobrir outros detalhes”.
Desde criança, Almada encontrou na poesia um canal
de expressão de sentimentos. A mãe sempre o
incentivou. O primeiro concurso que ganhou, na época
do colégio, teve apoio materno. A primeira publicação
veio em 2000, aos 12 anos, em uma antologia da Fênix
Editora. “Era um poema de criança. Mandei e eles
gostaram. Hoje, sempre me chamam para escrever.”
Entre o curso de letras na Unicamp, concluído ano
passado, o trabalho como professor, a poesia – que para
ele é como essencial como a respiração
–, Almada encontra tempo para tocar o projeto de pesquisa
“A Alma do Trem”, sobre a Companhia Paulista de
Estradas de Ferro (antiga Fepasa). Viajando pelas cidades
do interior, colhe depoimentos de ex-trabalhadores, membros
de sindicatos, moradores que tiveram alguma ligação
com a companhia que teve papel fundamental para o desenvolvimento
do ciclo cafeeiro do estado no século XIX.
“Por ser jovem, já ouvi que eu não teria
capacidade de recontar essa história”. A resistência
inicial que ele sofre se dissolve quando os moradores percebem
o real interesse em ouvir os relatos. O objetivo final da
pesquisa, iniciada em 2005, é publicar um livro de
poesias, com notas explicativas e fotografias ilustrando os
capítulos dessa história. “Só falta
o financiamento para a publicação”, lamenta.
E qual é o lugar preferido de São Paulo? “Ela
tem 2.700 mil metros e é onde mais colho personagens”,
conta. A avenida Paulista, para Almada, é fonte constante
para escrever. “Caminho vagarosamente por toda a sua
extensão, conhecendo pessoas, conversando. Gosto de
parar e observar”.
Pelo terceiro ano consecutivo, a trajetória do jovem
poeta e São Paulo vai estar relacionada para além
dos poemas. Ele vai abrir, na Casa das Rosas, as comemorações
do aniversário da cidade. Este ano, o recital será
“Água – entre o rio e mar” –
nos anos anteriores foram “Sonhesia” e “Palavras
Paulistanas”, dedicados exclusivamente à cidade.
Influenciado pelo concretismo de Haroldo de Campos e Augusto
dos Anjos, Almada constrói sua poesia olhando para
personagens que ilustram São Paulo, “a casa do
banal genérico/do trânsito colérico”.
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