18/08/08
Aventuras de um poeta jogador
Jonas Matos tem 13 anos e pensa
em jogar no Flamengo, mas vai lançar seu primeiro livro
de poesia na bienal
Jonas Worcman Matos tem 13 anos, estuda na sétima série
da Escola da Vila e quer ser jogador de futebol profissional.
Está tão certo de seu destino que, neste semestre,
garante que vai tentar passar pela peneira do Flamengo e,
se der certo, deixará os pais em São Paulo para
morar com uma avó no Rio. Para levantar algum dinheiro,
enquanto o estrelato futebolístico não chega,
está se aventurando como escritor -um dos seus prazeres
é escrever poesias de terror.
Esse é o perfil de um personagem que aposta na poesia
e no futebol e que poderia integrar um romance de literatura
infanto-juvenil, mas é também o do mais jovem
escritor a lançar um livro na bienal, que começa
amanhã, quando estará autografando a "Casa
de Franquis Tem", em co-autoria com seu pai, José
Santos Matos. "Já li muitos livros e vi muitos
filmes de terror, mas só tenho medo mesmo é
de altura", diz Jonas, que, além de dar autógrafos,
vai comandar oficinas de rimas para crianças.
"Casa
de Franquis Tem"
Além de abrir conta em banco, o livro ajudou-o a receber
mais lições da realidade. Ao lado do pai, ele
se reuniu com editores e foi obrigado a ouvir respostas negativas.
"Tive de matar aula porque a reunião era na hora
da escola." Acabou entusiasmando a editora FTD. Teve,
então, de se submeter a várias negociações
para preservar a sua obra.
Não gostaram de uma poesia, intitulada "Rap
da Caveira", que ele fez em homenagem a Mano Brown,
seu ídolo musical. "Eles argumentaram que havia
muitas palavras duras para o público infantil."
Saiu o rap, mas ele conseguiu salvar vários trechos
condenados pelos editores.
Jonas entrou na literatura por acaso. Seu pai escreveu um
livro de poesias para crianças e pediu a opinião
dele. "Ele falou francamente o que achava e tive de mudar
muitas passagens", conta José, um dos criadores
do Museu
da Pessoa, um espaço virtual em que se registram
histórias de vida. O filho parece até saído
de um dos mais exóticos tipos de seu museu.
O garoto tinha, na época, sete anos e viu-se seduzido
a brincar com rimas -ficou ainda mais motivado quando encontrou
bancos de rimas na internet. Começou então a
publicar
textos e a dar oficinas para seus colegas mais novos na
Escola da Vila.
Nada disso, porém, sugere que ele possa, quem sabe,
seguir uma carreira como comunicador ou escritor. "Não
preciso crescer para saber o que quero ser", afirma,
taxativo, ao lado do pai, silencioso, como se dissesse que
não tem forças para demovê-lo de seu projeto.
Mas enquanto o estrelado no campo não vem, Jonas encontrou
um meio-termo. Seu próximo livro será sobre
futebol e também no estilo de terror. "Mas o que
quero mesmo é ser o terror dos goleiros", brinca.
Escute
a participação de Jonas no Redação-Escola
Jonas
no Redação-Escola
Coluna originalmente publicada
na Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
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