São Paulo, quarta-feira, 02 de novembro de 2011

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Peça desvenda a intimidade de Artaud

Em 'Cartas a Génica', Carole Bouquet revela sentimentos do artista francês através da correspondência com sua mulher

Espetáculo é uma história de amor entre pessoas que não conseguem se comunicar, diz atriz

Divulgação
A atriz Carole Bouquet em cena de "Cartas a Génica"

GABRIELA MELLÃO
DE SÃO PAULO

É sobretudo a inquietação de um homem comum que Carole Bouquet revela em "Cartas a Génica".
Inédito no país, o espetáculo, que estreia amanhã e fica em cartaz até domingo, apresenta trechos de cartas e poemas escritos por Antonin Artaud (1896-1948), autor, diretor e fundador do teatro da crueldade, considerado um dos maiores nomes das artes cênicas do século 20.
"Mostro um Artaud extremamente humano. Se ele não fosse um poeta notável, eu diria que qualquer pessoa poderia ter escrito esses textos", diz à Folha a atriz, 54, que foi o rosto da Chanel nos anos 1990 e tem no currículo filmes como "Esse Obscuro Objeto do Desejo", de Luis Buñuel.
Grande parte da dramaturgia do espetáculo, concebido pela própria atriz, é formada por escritos de Artaud destinados à comediante romena Génica Athanasiou.
"Ela foi sua única mulher. Eles tiveram um relacionamento juvenil por seis anos, mas se corresponderam até o fim da vida dele", conta.
A atriz define o espetáculo como uma história de amor entre pessoas que não conseguem se comunicar. "Ela o amava, mas isso não foi suficiente. O amor nunca é suficiente para curar a dor", diz.
Nesses escritos, Artaud aborda temas universais, como paixão, desejo, solidão e incompreensão, expressando seus sentimentos mais íntimos. "São palavras de um homem raivoso em busca de verdade, amor e significado à vida", resume Bouquet.

DESEQUILÍBRIO
"Cartas a Génica" também revela a essência desequilibrada desse artista que foi tido como louco, passou os últimos 11 anos de vida em hospitais psiquiátricos e cuja obra "Teatro e seu Duplo" é considerada uma referência até hoje para artistas.
Em um dos trechos, Artaud suplica a Génica: "Acuda-me, ao invés de piorar meu mal, entenda, enfim, que todas as suas razões não podem me convencer porque há muito tempo que meu pavoroso destino me deixou fora da razão humana, fora da vida".
Para a atriz, as cartas podem ajudar espectadores a entender o sofrimento. "Artaud mostra que não estamos sós quando sentimos dor. A única diferença é que, em geral, as pessoas passam por períodos de crise. Não sofrem todos os dias, como ele."
Bouquet expõe o universo interior do artista com o máximo de simplicidade. "Minha intenção era somente fazer as pessoas ouvirem as palavras fortes e puras de Artaud, embarcarem nessa viagem introspectiva", diz.
Num palco nu, ela entoa com precisão e sensibilidade o texto, algumas vezes com os olhos fixos nas folhas que tem nas mãos. "Não é um espetáculo, mas a apresentação de um longo poema", conclui.

CARTAS A GÉNICA
ONDE Sesc Belenzinho (r. Padre Adelino, 1.000; tel. 2076-9700)
QUANDO de qui. a sáb., às 21h, e dom., às 18h; de 3/11 a 6/11
QUANTO de R$ 8 a R$ 32
CLASSIFICAÇÃO 16 anos


Próximo Texto: Raio-X: Carole Bouquet
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.