São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2008 |
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Crítica/"Meu Irmão É Filho Único" Luchetti retrata com humanismo batalha entre comunistas e fascistas
SÉRGIO RIZZO CRÍTICO DA FOLHA
Duas décadas conturbadas na vida sociopolítica italiana são evocadas por "Meu Irmão é Filho
Único", o nono longa-metragem de ficção do diretor e roteirista Daniele Luchetti. A abordagem difere muito, no entanto, de "O Senhor Ministro"
(1991), um de seus filmes mais
importantes, que se concentrava nas atividades de um político
corrupto (Nanni Moretti).
Aqui, o foco está voltado para
a militância política nos anos
60 e 70, a partir das relações entre dois irmãos da pequena Latina (próxima a Roma, na região do Lazio) que, como o título sugere, parecem diferentes
em tudo -e, sobretudo, na maneira de compreender a sociedade italiana e de lutar pelo que
lhes parece a solução para torná-la mais justa.
A narrativa se instala ao lado
de um deles, Accio. Na infância,
interpretado por Vittorio Emanuele Propizio, ele já se mostra
inquieto e rebelde. Com a ruidosa habilidade de arrumar encrenca por onde passa, vira a
ovelha negra da família, formada por pai (Massimo Popolizio), mãe (Angela Finocchiaro)
e dois irmãos mais velhos, Manrico (Riccardo Scamarcio) e
Violetta (Alba Rohrwacher).
Embora esse período seja
marcante, os dramas de Accio
se tornam mais complexos e
pungentes quando chega à juventude (interpretado com
energia contagiante por Elio
Germano, de "Concorrência
Desleal" e "Respiro"). Suas diferenças com Manrico passam
principalmente pelo confronto
entre comunistas e fascistas,
mas não se esgotam aí.
A serenidade, a beleza e o poder de sedução de Manrico fazem de Accio um patinho feio
que parece ter dolorosa consciência da própria condição. O
que não o impede, contudo, de
encontrar, à sua maneira, o caminho para o autoconhecimento e, com ele, o melhor entendimento do cenário político
e de seu lugar na própria família.
Baseado no romance "Il Fasciocomunista", do ex-operário
Antonio Pennacchi (nascido
em Latina e ex-militante de diversas organizações de esquerda), Luchetti arranca desse lento processo de amadurecimento o que o cinema italiano, por
ao menos três décadas no pós-guerra, soube fazer bem: impregnar de humanismo um registro da sociedade que, ao examiná-la pelo microcosmo das
relações familiares, se torna vívido e envolvente. |
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