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São Paulo, domingo, 04 de maio de 2003

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Aos 42 anos, que completa hoje, Herbert Vianna faz show com os Paralamas na cidade e diz estar em "reconstrução"

Aniversário em praça pública

Rosa Bastos - 15.dez.2002/Folha Imagem
Herbert Vianna, que toca com os Paralamas do Sucesso hoje, em SP


SHIN OLIVA SUZUKI
DA REDAÇÃO

Hoje parece ser um dia especial para Herbert Vianna, cantor e guitarrista dos Paralamas do Sucesso. Neste domingo, às 16 horas, na praça Charles Miller, em frente ao estádio do Pacaembu, o músico tocará, em show gratuito, no mesmo dia em que completa 42 anos de vida. Marca que, face aos acontecimentos de exatos 27 meses atrás, ganhou importância distinta.
"Vou poder celebrar a data fazendo o que mais gosto, que é tocar com meus irmãos João [Barone, baterista do grupo] e Bi [Ribeiro, baixista]", diz Vianna, por e-mail, à Folha.
Após sobreviver ao acidente com um ultraleve, em 4 de fevereiro de 2001, que o deixou 21 dias em coma e matou sua mulher, Lucy Needham, o músico avança em seu processo de recuperação, adquirindo gradualmente mais confiança em cima do palco.
"Estou conseguindo me adaptar aos novos pedais [peças que modificam o som da guitarra, que Vianna agora maneja com as mãos" e sinto que, pelo fato de estar sentado, estou cantando muito melhor", afirma.
A evolução no tratamento, embora o músico permaneça paraplégico e com problemas na memória de fatos recentes, já permite que intensifique seu ritmo de trabalho e volte a arriscar melodias novas -o álbum "Longo Caminho" foi todo composto no período pré-acidente.
"Sempre que posso, tenho um instrumento ao alcance das mãos, e isso tem me ajudado muito a buscar novas idéias musicais. O fato de estar vivo e podendo tocar me deixa muito agradecido", afirma Vianna.
"Apesar de não ignorar as minhas dificuldades, não me sinto um trabalhador ferido. Estou compondo algumas coisas, que são resultado das minhas observações sobre a vida. Tento sempre buscar um ângulo ou um ponto de vista que seja honesto nesse meu momento de reconstrução."
Para os companheiros de banda, há a percepção de um crescendo em sua motivação musical, evidenciado nos ensaios e nas passagens de som.
"O Herbert sempre quer mais, a hora que acaba o ensaio ele quer ficar tocando mais, quando acaba o show, quer que tenha mais. Ele está se esforçando. Está compondo algumas melodias, mas nem todas as coisas são legais [risos"", comenta o baixista Bi Ribeiro.
Mesmo sem nenhuma canção totalmente pronta e sem pressões para gravar um novo disco, o grupo pode prosseguir na linha de "Longo Caminho", priorizando o trabalho em trio. Mais incerto é se o próximo registro vai se referir ao acidente de alguma forma.
"O que acontecer certamente vai ter um critério muito avaliado, muito embasado da parte dele. Acho que a gente não pode ter uma garantia muito grande de nada, tudo é mera especulação. Quem sabe o Herbert saia com alguma coisa genial, consiga destilar o que ele está sentindo. Ou quem sabe ele venha falar sobre um outro assunto de uma maneira original", diz João Barone, baterista do trio.
Mesmo sem nenhuma composição que faça alusão direta ao ocorrido, as próprias letras do mais recente álbum suscitam uma ligação com o fato, como no sucesso radiofônico "Cuide Bem do Seu Amor": "E tudo muda/ Adeus velho mundo/ Há um segundo tudo estava em paz".
"Realmente são coincidências que são ditas ali, não tem como deixar de pensar nisso. Claro, nesses momentos em que determinada canção é tocada, existe uma emoção maior", afirma Ribeiro. Para João Barone, "é inevitável você botar isso dentro do contexto. Agora, todos nós somos outras pessoas depois do que aconteceu. Foi tudo muito intenso, uma situação bastante profunda. Essas músicas, mesmo tendo sido escritas antes do acidente, acabaram entrando numa outra moldura".
Para o show de hoje, o grupo planeja fazer seu primeiro terço só com os três integrantes, explorando o formato de "Longo Caminho", com menos espaço para os arranjos. Mesmo assim, o trio não deve tardar para despejar alguns clássicos, como "Meu Erro" e "Selvagem".
"Eu adoro tocar em São Paulo. Dá uma dimensão muito grande da penetração da nossa música", diz Herbert Vianna. Bi Ribeiro afirma que "a banda sempre considerou especial tocar na cidade. Acho que dão bola para nós mais aí [em São Paulo" do que aqui [no Rio de Janeiro"".
As surpresas devem surgir em possíveis convidados para dividir o palco com os Paralamas. Bi Ribeiro apenas confirmou que um grande guitarrista paulista e de sua geração poderá se juntar ao grupo. Edgard Scandurra, do Ira!? "Talvez alguém mais cabeludo", despista Barone.
A celebração de vida de Herbert Vianna deve prosseguir nesta semana, em Buenos Aires, em dois shows que contarão com grandes nomes do rock argentino (leia texto ao lado).

Projeto
A apresentação dos Paralamas dá início ao Rock Cidadania, projeto da Prefeitura de São Paulo em conjunto com a rádio 89 FM, que organizará shows uma vez por mês em vários pontos da cidade, paralelos a campanhas de organizações não-governamentais relacionadas a meio ambiente, uso de drogas, prevenção à Aids, entre outros temas.


PARALAMAS DO SUCESSO. Show que abre o projeto Rock Cidadania. Onde: praça Charles Miller, s/nš, em frente ao estádio do Pacaembu. Quando: hoje, às 16h. Quanto: entrada franca.


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