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Pianista mineiro se apresenta ao lado da Orquestra Sinfônica Municipal e sola no "Concerto nº 2", do compositor polonês
Chopin nas mãos de Nelson Freire
IRINEU FRANCO PERPETUO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O Teatro Municipal recebe, nesta semana, o artista mais requisitado da temporada paulistana de
concertos: o pianista mineiro Nelson Freire, 58.
Presente em quatro das seis séries internacionais de São Paulo,
Freire sola no "Concerto nº 2", de
Chopin, hoje e amanhã, com a
Orquestra Sinfônica Municipal,
sob a regência de Ira Levin. Para
este mês, no Brasil, ele tem ainda
um recital em Porto Alegre, dia 16,
e a abertura da temporada da Orquestra Sinfônica Brasileira, dia
19, no Rio de Janeiro, interpretando o concerto de Schumann.
"É uma inflação Nelson Freire",
brinca o pianista, cuja agenda internacional também está agitada,
incluindo um recital em Paris, em
abril, e duas turnês no Japão, além
de aparições nos EUA, concertos
na França sob a batuta de Kurt
Masur e a tarefa de tocar Rachmaninov com a Filarmônica de São
Petersburgo.
A demanda pelo pianista parece
ter crescido na razão direta do sucesso de seu último álbum solo,
dedicado a Chopin. Lançado pela
multinacional Decca, o CD recebeu os principais prêmios fonográficos franceses, incluindo o
"Grand Prix du Disque". Além
disso, no último dia 26, Nelson
Freire foi agraciado com o Victoire, mais importante láurea da música erudita na França, equivalente naquele país ao que é o César
para o cinema.
Impulsionado pelo êxito, o pianista entrou em estúdio no final
do ano passado para registrar, na
Suíça, um novo disco solo, desta
vez completamente dedicado a
Schumann, incluindo o "Carnaval op. 9", as "Kinderszenen",
"Papillons" e "Arabeske". Não há
ainda previsão para o lançamento
comercial deste CD.
E em 1º de maio, no Rio de Janeiro, ele participa do lançamento
de "Nelson Freire, o Homem e
Sua Música", documentário rodado pelo cineasta João Moreira Salles.
O "Concerto nº 2", de Chopin,
que ele apresenta hoje e amanhã
em São Paulo, Nelson Freire lembra-se de tê-lo tocado pela primeira vez no Porto (Portugal), em
1967. "Depois do ensaio, fui para
o hotel dormir, mas me esqueci de
colocar o despertador para tocar",
conta. "Fui acordado por um telefonema, avisando que a orquestra
estava tocando a abertura. Saí
apressadamente e fui vestindo a
casaca do concerto no táxi."
"Martha Argerich acha esse o
concerto mais difícil do mundo. É
quase como se fosse um Mozart
romântico, porque cada nota faz
sentido, não existe nada óbvio
nem supérfluo, e é muito complicado achar a atmosfera certa", explica. "Gosto mais deste concerto
de Chopin do que do "nº 1". Guiomar Novaes dizia que ele é uma
caixinha de jóias. A sensibilidade
fica à flor da pele o tempo todo."
Strauss e Stravinski
Para complementar o programa, o regente norte-americano
Ira Levin escolheu peças que, na
sua visão, possam mostrar a evolução que a Orquestra Sinfônica
Municipal sofreu desde o início
de sua gestão à frente dela, no começo do ano passado: o poema
sinfônico "Don Juan", de Richard
Strauss ("eu queria uma obra bem
vibrante para começar a temporada") e "A Sagração da Primavera", de Stravinski ("é uma peça
que não era tocada há anos no
teatro, e, justamente por sua grande dificuldade, funciona como
um bom veículo para mostrar o
novo nível da orquestra").
"Quando assumi a Sinfônica
Municipal, ela não estava em boa
forma", afirma Levin. "Hoje, todo
mundo reconhece que a orquestra progrediu imensamente e se
encontra em um nível diferente."
O regente diz que não quer
competir com ninguém, muito
menos com a Osesp, "mesmo
porque muitos dos músicos que
estão hoje no Municipal já tocaram na Osesp".
"Eu não estou governando um
estado policial", diz Levin. "Quero a orquestra funcionando profissionalmente, mas sem terror."
Uma peculiaridade de Levin é
reger a maioria de seus concertos
de cor, fato muito raro entre seus
pares brasileiros. O maestro, contudo, não dá grande importância
a isso: "Fui abençoado com uma
memória muito boa, mas isso não
é necessariamente importante para a orquestra. Grandes maestros
do passado regiam com a partitura; e, quando você ouve uma boa
gravação, não sabe se o regente
estava ou não com a partitura na
frente quando a fez".
NELSON FREIRE E ORQUESTRA
SINFÔNICA MUNICIPAL. Quando: hoje,
às 11h, e amanhã, às 21h. Onde: Teatro
Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nº,
tel. 222-8698). Quanto: de R$ 10 a R$ 35.
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