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ARTES PLÁSTICAS
Pinacoteca expõe retrospectiva do artista
Ianelli dá forma à troca entre as cores
TIAGO MESQUITA
CRÍTICO DA FOLHA
Mesmo tendo iniciado
sua carreira como pintor
figurativo, Arcangelo Ianelli
nunca quis pintar coisas. Se observarmos seus quadros, desenhos e esculturas, vemos seu
desejo de figurar; mas, em vez
de temas, ele quis dar forma à
luz que banhava os corpos, às
trocas entre as cores. As formas
se desprendiam de seu contorno e convergiam para um ponto em que todos os elementos
se encontravam, em direção a
um ponto luminoso.
Em seus primeiros trabalhos
figurativos dos anos 40, o artista pinta sem que a descrição do
tema tenha preponderância sobre a pintura. Esta atua relacionando feixes de luz que chegam aos olhos como a formalização de oscilações ópticas, e
não a de corpos concretos.
Nas pinturas dos anos 60, a
luz deixa de se manifestar nessa
espécie de manto diáfano e incolor que cobre todos os elementos. Aqui, os quadros se
tornam mais planos, e as suas
partes, mais transparentes.
Uma forma se interpenetra
na outra, indefinindo a posição
dos objetos na tela. O quadro é
ordenado menos pela ordem
dada aos objetos no espaço do
que por uma certa presença luminosa que compõe o olhar do
observador, separando analiticamente cada parte e as recompondo como planos translúcidos. Essa luz unificadora aparece de maneira mais marcada.
Quando os trabalhos de Ianelli se tornam mais abstratos e
geométricos, a cor fica mais
granulada. Esses trabalhos são
curiosamente os mais bem
marcados, feitos de formas retangulares e linhas finas, mas
bem traçadas, onde a profusão
de cores aparece de maneira
mais decidida. Entretanto, como nas naturezas-mortas dos
anos 60, o artista aqui tenta
unificar esses planos como corpos transparentes, como se estivesse mais interessado no fenômeno luminoso que consegue reunir diversos planos numa forma indissociável do que
em lhes atribuir autonomia.
Nos trabalhos mais recentes,
essa relação torna-se ainda
mais vaporosa. Infelizmente, aí
não existe nem a procura de
uma nova forma de se relacionar com a luz nem um espaço
que pode se comportar de maneira mais desinibida. Apesar
de haver um nobre compromisso com a procura de beleza
e harmonia, ele se converte numa forma que, ao absorver tudo, não nos deixa conhecer
nem sequer a cor.
Arcangelo Ianelli
Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da
Luz, 2, Bom Retiro, tel. 229-9844)
Quando: de ter. a dom., das 10h às
17h30; até 13/12
Quanto: entrada franca
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