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Di Cavalcanti, Segall, Flávio de Carvalho, Oswaldo Goeldi e Ismael Nery estão reunidos em mostra sobre atriz argentina
Um rosto, 10 olhos
ALEXANDRA MORAES
DA REDAÇÃO
Rosto presente nas obras de Di
Cavalcanti, Lasar Segall, Oswaldo
Goeldi, Flávio de Carvalho e Ismael Nery, mas nome bem pouco
constante nas referências ao modernismo brasileiro, a atriz e declamadora de poemas russo-argentina Berta Singerman (1901-1998) foi uma personagem singular na história do movimento.
A reunião de uma série de obras
-guardadas há muito em locais
diferentes- realizada em torno
de Singerman é o fio condutor da
mostra "A Aventura Modernista
de Berta Singerman -°Uma Voz
Argentina no Brasil", no Museu
Lasar Segall, que convidou a pesquisadora argentina Patricia M.
Artundo para organizar uma exposição a partir do material de Segall sobre a atriz que estava no
acervo da instituição.
A essas obras, Artundo juntou
mais retratos e desenhos para cenários feitos por Nery e Di, quase
todas obras de colecionadores
particulares, registros de voz da
atriz, programas de suas apresentações, fotografias e manuscritos
e primeiras edições de livros dos
modernistas com quem conviveu.
"A intenção é recuperar a relação de amizade entre Berta Singerman e os artistas brasileiros,
uma amizade muito longa, que foi
dos anos 20 aos 60 e produziu
uma troca muito rica", diz Artundo, responsável pelo Museo Xul
Solar, em Buenos Aires.
Singerman fez suas primeiras
apresentações em São Paulo e no
Rio em 1925, quando tomou contato com os escritores Antonio de
Alcantara Machado e Alvaro Moreyra. A atriz interpretava excertos de peças e poemas de escritores como Rubén Darío, Andreiev,
Jean Moréas e Marqués de Santillana, com repertório calcado sobretudo na literatura latino-americana. "Ela contribuiu muito para a difusão da literatura latino-americana não apenas no Brasil e
na Argentina, mas também no
resto da América e na Europa. Os
artistas reconheciam essa sua
qualidade", explica a curadora.
Em 1927, Mário de Andrade entrevistou a artista, que se apresentava novamente no Brasil. A partir daí, é iniciada a amizade entre
eles e o contato mais forte de Singerman com os modernistas. É
também nessa época que seus retratos começam a ser pintados
por Segall e Di Cavalcanti, que havia conhecido na casa de Alvaro
Moreyra, e a amizade com Mário
de Andrade, Oswald de Andrade,
Menotti del Picchia e outros modernistas lhe rende alguns brasileiros no repertório, recitados
quase sempre em espanhol.
Num texto do fim da década de
20, Mário de Andrade descreve a
atriz e sua relação com a arte brasileira: "A sonoridade, os ruídos,
os ritmos (...), isso é a arte que
Berta Singerman quer conquistar.
Então cantarolo a nossa embolada "Bambo do Bambu-bambu".
(...) Com os olhos relumeantes de
gozo, [ela] agarra o motivo com
as duas mãos e não o larga mais".
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