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"DOZE MOVIMENTOS PARA UM HOMEM SÓ"
Coreógrafo reúne parceiros antigos e novos em espetáculo investigativo
Violla dança entre o passado e o futuro
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
"...Se o meu caminho, sozinho, é nada...", diz a
canção de Tom Jobim (com letra
de Aloysio de Oliveira). "Inútil
Paisagem" serve de trilha para um
dos "Doze Movimentos para Um
Homem Só", de J.C. Violla, que
estreou no último dia 2, no Sesc
Consolação. Poderia servir de epígrafe, também, para esse espetáculo reunindo oito coreógrafos
convidados, entre nomes contemporâneos e antigos parceiros.
Aos 55 anos, absolutamente em
forma, Violla é o intérprete único
das várias linguagens que se sucedem em cena, numa sequência
que não é só da dança, mas do teatro. A direção do espetáculo ficou
a cargo de Naum Alves de Souza,
que produziu com Violla, entre
outros, "Petrouchka" e "Nijinsky" (coreografados por Célia
Gouvea e relembrados aqui).
O primeiro encontro entre diretor e coreógrafo, na verdade, foi
em "Falso Brilhante", mitológico
show de Elis Regina; e algo de
show (hoje mais próximo do maduro Ney Matogrosso do que de
Elis) rege também os "Doze Movimentos" para esse homem, ao
que se vê, nada só.
Filmes projetados na frente ou
no fundo do palco trazem cenas
do passado dançante de Violla.
Atrás da tela surge o bailarino,
numa dança lenta e acentuada.
Em meio ao cenário -um quarto
com muitas portas de saída, cadeiras no chão e nas paredes, com
bonecos sentados-, Violla dança
o solo criado por Roberto Ramos.
No seu corpo, os vetores característicos da dança-de-chão de Ramos se suavizam e ganham novas
dinâmicas.
O ponto alto da noite é quando
Violla, usando toda a sua experiência, desliza pelo palco como
num salão. Por exemplo, na coreografia de Adriana Grecchi para
o "Samba da Bênção" (na versão
de Bebel Gilberto): os acentos
bem marcados das pernas e dos
pés contrapõem-se ao controle
macio do tronco e dos braços.
Por outro lado, não dá para não
mencionar o que há de mais fraco,
também, que é a dramaticidade
gratuita. Só se justifica aceitando,
sem reservas, a mais desbragada
estética "kitsch gay". Como na cena com um bicho de pelúcia, em
que Violla faz brincadeiras com a
platéia, ou na cena dele deitado
num banco, melancólico, ao som
de "Inútil Paisagem"; ou ainda no
arremesso das calças pela coxia,
antes de dançar só de sunga. Será
politicamente incorreto afirmar
que a expressividade, nesses pontos, se deixa trair pelo clichê?
O espetáculo cita outras criações de Violla; e há várias cenas
em que a imagem da projeção e
da dança real fazem contraponto
uma à outra. Na "Dança de Salão", por exemplo, com Violla sozinho "acompanhado" de sua saia
de franjas ao fundo. Nas projeções, há espaço também para
mostrar o que acontece nos bastidores, entre uma cena e outra.
A idéia é instigante -várias experiências de movimento num
corpo só-, com apuro cênico e
intérprete em grande estilo. Talvez canse um pouco, pela repetição do expediente. Mas o mínimo
que se pode dizer é que a experimentação garante a continuidade
e a relevância do trabalho de Violla, um bailarino que desde a década de 70 não cessou jamais de
contribuir perspectivas novas à
dança brasileira.
Doze Movimentos para Um
Homem Só
Com: J.C. Violla
Onde: Sesc Consolação (r. Dr. Vila Nova,
245, Vila Buarque, tel. 3234-3000)
Quando: sexta e sábado, às 21h;
domingo, às 19h; até 1º/9
Quanto: de R$ 15 a R$ 30
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