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ILUSTRADA
CD chegou às lojas 6ª sem alarde, para evitar pirataria
Rappers do Racionais MC's lançam disco com a crônica da periferia
XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL
ISRAEL DO VALE
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA
O mais importante grupo do
rap brasileiro, o Racionais MC's,
cuja marca é a crônica do "inferno" da periferia da cidade de São
Paulo, mandou às lojas na tarde
de anteontem, o seu novo disco,
que foi recebido no mercado como o mais importante do ano.
"Nada como um Dia Após o
Outro Dia - Chora Agora", CD
duplo com 21 faixas -tiragem
inicial de 100 mil exemplares-,
foi lançado na surdina, sem alarde
ou entrevistas dos quatro componentes do influente "coletivo" do
hip-hop brasileiro: Mano Brown,
Edy Rock, Ice Blue e KL Jay.
A estratégia teria como objetivo
evitar a ofensiva da pirataria de
discos, que tem conseguido antecipar, com a venda em bancas de
camelôs, lançamentos de CD considerados importantes na praça.
Outra medida preventiva dos
produtores dos Racionais foi imprimir o preço sugerido para a
venda -R$ 23,90- na capa.
"Não tem como vencer a pirataria", diz Luis Antonio Serafim, diretor de marketing do selo Cosa
Nostra/Zambia, desdobramento
da gravadora independente Zimbabwe, marca de origem do grupo e atual distribuidora dos CDs
-depois de fim de contrato dos
rappers com a Sony.
O novo disco dos Racionais chega depois de quatro anos do lançamento do título "Sobrevivendo
no Inferno", que retratava a
"guerra da periferia", a banalização das chacinas e o submundo
das prisões, como os acontecimentos do Carandiru.
Entre CDs da própria gravadora
e piratas, estima-se que o álbum
de 98 tenha vendido cerca de 1 milhão de exemplares. A vendagem
foi conquistada sem a presença
dos rappers nos programas das
grandes emissoras de TV. O conjunto sempre se recusou a fazer
essa política de divulgação.
Foi dessa forma que angariou,
desde as primeiras gravações em
coletâneas como "Consciência
Black", de 88, uma legião de "manos" -termo que ganhou as ruas
das grandes cidades brasileiras,
para designar amigos, camaradas,
a partir das letras dos Racionais.
"Holocausto Urbano"
A crônica do crescimento da
violência em São Paulo tem nos
discos dos Racionais MC's um registro importante. O avanço do
crime e o desmantelo social estão
documentados nos títulos "Holocausto Urbano" (90), "Escolha
seu caminho" (92), "Raio X do
Brasil" (93) e o recordista de vendas "Sobrevivendo no Inferno".
Foi com este último, de 98, que a
música do grupo ampliou as fronteiras e tornou-se um fenômeno
também entre os jovens de classe
média, o que não ocorria desde o
começo dos anos 80, quando pioneiros, como Thayde e DJ Hum,
iniciaram a jornada.
As mensagens do grupo comandado pelo MC (mestre de cerimônia, na linguagem do hip-hop) Mano Brown despertaram
muitos jovens de subúrbios das
capitais do país para a função social do rap, gênero que passou a
fazer parte das atividades de uma
rede de ONGs (organizações não-governamentais).
"O pessoal quer ver as coisas na
prática. Não tem como falar para
o moleque sair do crime se você
não tem nada para oferecer para
ele. Tem que oferecer alguma coisa em troca", disse Ice Blue, integrante dos Racionais, em entrevista à Folha final do ano 2000,
quando os rappers anunciaram o
engajamento em projetos sociais
na periferia paulistana.
"Só que para isso tem que ter dinheiro. A proposta dos Racionais
para os próximos anos é essa: fazer na prática. Porque o discurso
já está feito", lembrou Blue.
Outros rappers importantes da
chamada cena hip-hop (abarca o
rap, o grafite e a dança de rua) de
São Paulo, como Rappin'Hood e
o DJ Marcelinho (ex-componente
do grupo Câmbio Negro, também
do gênero), desenvolvem atividades na área de educação para
crianças e adolescentes.
A chegada do novo disco dos
Racionais MC's nas lojas do centro de São Paulo, na tarde de anteontem, causou agitação nas
imediações das Grandes Galerias,
na rua 24 de Maio. O CD, que pegou o público cativo do grupo
desprevenido, foi disputado por
compradores antes mesmo de ser
exposto nas prateleiras e vitrines.
NADA COMO UM DIA APÓS O OUTRO
-CHORA AGORA. Grupo: Racionais
MC's. Lançamento: Cosa Nostra/Zambia.
Quanto: R$ 23,90 (preço sugerido).
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