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TEATRO/CRÍTICA
"Com a Pulga Atrás da Orelha" tem elenco estrelado; "Deu Maromba na Maroma" aposta em solo
A arte do ator cabe em todos os palcos
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Logo no começo de "Com a
Pulga Atrás da Orelha", todos
os atores, mascarados, vêm ao
proscênio cantar uma velha canção francesa. Está avisado: não serão abordadas aqui sutilezas do
comportamento humano nem
denunciada a situação do país.
Mas a máscara nesse prólogo
simbólico marca um endosso ao
teatro popular, que faz o elenco de
famosos e figurantes, em um mesmo prazer de criança, dar voltas
arrojadas no vertiginoso carrossel
de Georges Feydeau.
Em uma trama de quiproquós,
um bom burguês tem sua fidelidade testada pela mulher em um
bordel no qual, como em um universo paralelo, é confundido com
um empregado, sósia seu; juntem-se a isso um fanho que recobra a fala por encanto, dois ou três
maridos ciumentos, criados e
prostitutas e um ritmo alucinante
e se entende como Feydeau é precursor do teatro do absurdo, por
intermédio dos irmãos Marx.
O cenário é um desafio de camas giratórias e passagens secretas entre vários ambientes, que
Renato Scripilitti realiza com eficácia, sem disfarçar a requerida
estética de trem fantasma.
Tendo enquanto alicerce a excelente tradução de Gianni Rato,
que em 1960 no TBC trouxe a peça
para o Brasil do Teatro de Revista,
Gracindo Júnior incentivou os
atores para que se jogassem no
histriônico sem falsos pudores,
mas também sem permitir que
ninguém fizesse sombra ao outro,
o que é bonito de ver, em um elenco tão estrelado.
O jogo é coletivo e seria deslocado ressaltar um ou outro ator: todos se divertem de peito aberto, e
o resultado é irresistível.
Assim, as trincheiras do experimental e do comercial, do anonimato e da fama se desmancham
quando os atores tomam conta do
espetáculo, com respeito e amor
pelo ofício. O que significa também que uma peça não depende
tanto quanto se teme de um investimento grande em cenários,
figurinos e altos salários, para
exercer a importante função de
ser popular.
A prova disso é "Deu Maromba
na Maroma". Em uma minúscula
sala, Karina Sbruzzy se desdobra
em dezenas de papéis, contracenando consigo mesma a partir de
um texto fraco, no qual, no entanto, o diretor Marcelo Lazzaratto
soube lapidar um espetáculo despretensioso e divertido.
Apoiada pela música ao vivo
-com destaque para Soraya Saba, de voz límpida e autora de um
bom samba-, Sbruzzy mostra
um apurado tempo de comédia,
sendo, assim, digna da trupe dos
veteranos de "Com a Pulga Atrás
da Orelha".
Concebida de início para ser
apresentada apenas em escolas, a
montagem se tornou um grande
êxito na sua cidade de origem,
Taubaté, e espalhou sua fama por
toda a região, lotando teatros. O
fato de ela fazer figura aqui na capital de teatro alternativo ilustra
bem o quanto se deve desconfiar
de rótulos maniqueístas que
opõem um arrojado e questionador teatro artesanal a um "teatrão" a serviço do sistema.
Com seu talento para o teatro
popular, Sbruzzy talvez alcance
um dia a fama da televisão e das
grandes montagens. Se não, continuará em boa companhia junto
aos profissionais da cena que, longe dos holofotes e dos grandes
centros, mantém vivo o teatro no
Brasil.
Com a Pulga Atrás da Orelha
De: Georges Feydeau
Direção: Paulo Gracindo Jr.
Com: Maitê Proença, Herson Capri,
Edwin Luisi, Rogério Fróes e Françoise
Forton
Onde: teatro Procópio Ferreira (r.
Augusta, 2.823, Cerqueira César, tel.
3083-4475)
Quando: sex., às 21h30; sáb., às 19h e às
22h30; dom., às 18h; até 15/12
Quanto: de R$ 30 a R$ 50
Deu Maromba na Maroma
Texto: João d'Oliveira
Direção: Marcelo Lazzaratto
Com: Karina Sbruzzy
Onde: teatro Ruth Escobar (r. dos
Ingleses, 209, Bela Vista, tel. 289-2358)
Quando: de qui. a sáb., às 21h30; dom.,
às 20h30
Quanto: R$ 15
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