São Paulo, sábado, 19 de julho de 2008

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Taunay ganha revisão em mostra

Pintor é o foco de exposição aberta hoje na Pinacoteca do Estado, com 71 obras do artista que veio na Missão Artística Francesa

Com curadoria da historiadora Lilia Moritz Schwarcz, mostra traz obras de museus como Versalhes e Victoria e Albert


Fotos Filipe Redondo/Folha Imagem
Montador da Pinacoteca à frente de dois retratos de familiares de Taunay, pertencentes ao Museu Nacional de Belas Artes

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um Napoleão visto meio de lado, sendo recepcionado por populares de semblantes jocosos, incluindo um cachorro e crianças. Uma cena de dura campanha de guerra que põe em evidência um soldado colocando a mão no pé. Uma vaca pastando em um campo separada apenas por um muro de uma família abastada sendo servida por escravos.
Poderiam ser panoramas de um pintor burlesco, mas são de autoria do francês Nicolas-Antoine Taunay (1755-1830), que vem ganhando uma revisão histórica sobre sua obra, colocada por muito tempo à margem de nomes como Debret (1768-1848) e que ganha uma exposição que é aberta hoje na Pinacoteca do Estado. Com curadoria da historiadora Lilia Moritz Schwarcz, a mostra apresenta 71 obras, a grande maioria de pinturas a óleo, e talvez seja a mais importante exposição realizada por ocasião do marco dos 200 anos da chegada da família real ao Brasil. Foi exibida até o último dia 6 no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio, e tem quadros de museus de peso, como o de Versalhes, na França, e o Victoria & Albert, em Londres.
"Taunay era um pintor acadêmico, e em suas diversas fases podemos ver como ele prezava muitos conceitos dessa sua formação. Ao mesmo tempo, surgem em vários trabalhos alguns elementos bem livres e que não aparecem em pintores da época", diz a curadora. "Seu fascínio por cães e outros animais, os tipos populares em poses não-oficialistas, seu interesse pelo "menor", isso o distancia de outros artistas. David, por exemplo, que ficou mais famoso, tinha uma pintura bem mais grandiloqüente."
Schwarcz vê Taunay como um representante do pensamento ilustrado e que faz elogios particulares à revolução. "Ele observava a dignidade do homem comum de forma menos idealizada, como se vê em "Acampamento dos Sans-Culottes" [1790], e destaca a cooperação [em "Festa da Liberdade", 1790, e em "Hospital Militar na Itália", em 1797, por exemplo] e a importância da arte [em "O Teatro da Loucura']." A escravidão é um ponto no qual Taunay tem um comportamento ambivalente, segundo a curadora. Ele chegou a ter escravos em seu período no Rio, mas não via com bons olhos a prática. E retrata de modo peculiar os negros em seus quadros. "É interessante ver como ele considera, em várias telas, a escravidão como detalhe. E, em "O Largo do Machado em Laranjeiras" [1816-21], por exemplo, não há brancos, parece idílica a convivência entre os escravos, a natureza e as vacas. É uma Arcádia improvável."

Retratos
Taunay era o mais qualificado nome da Missão Artística Francesa, mas sua produção nunca foi valorizada. Nos retratos da família real, ele revela grande talento, assim como nos retratos íntimos de seus familiares e até de sua criada, Jeanneton. "É uma tela de grande interesse, incomum pela retratada, que exibe um leve sorriso", diz a curadora, também autora de "O Sol do Brasil" (Cia. das Letras), mais completo livro sobre Taunay no país.

NICOLAS-ANTOINE TAUNAY NO BRASIL: UMA LEITURA DOS TRÓPICOS
Quando: abertura hoje, às 11h; de ter. a dom., das 10h às 18h; até 7/9
Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, tel. 3324-1000)
Classificação indicativa: livre
Quanto: R$ 2 a R$ 4; hoje, grátis



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