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Individuais de Leonilson e Edith Derdyk discutem espaço e forma
Maria Antonia exibe ainda Alexis Iglesias, Sofia Borges e Fernando Lindote
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Edith Derdyk estava cansada
de carregar o mar. Foram duas
toneladas, 13 mil folhas de papel, que a artista arrastou até o
segundo andar do Maria Antonia -elas formam uma onda
branca imensa que esbarra numa chapa de aço de 200 kg, escorada nas duas colunas que dividem a sala ao meio.
"Eu quis uma situação de
desmedida, algo que buscasse
um espaço que não acaba", conta a artista, fixando os olhos
azuis na montanha de folhas da
instalação "Se o Mar Inteiro
Sob o Leito de um Rio".
É uma das cinco individuais
que o Centro Universitário Maria Antonia abriu ontem, dividindo seu espaço entre mostras
paralelas de Leonilson, o cubano radicado no Brasil Alexis
Iglesias, Fernando Lindote e a
jovem Sofia Borges.
"Essa brancura, esse vazio dá
uma idéia de imensidão", descreve Derdyk, que aqui parece
esparramar pelo chão a instalação "Onda Seca", já montada na
Pinacoteca. "A gente se sente
sozinho diante disso tudo."
É o mesmo sentimento que
aparece nos 30 desenhos de
Leonilson (1957-1993), que
ocupam a sala ao lado. No lu-
gar dos bordados que marcaram a trajetória do artista, estão expostas folhas brancas
com pequenos desenhos perdidos no espaço.
"Oceano, Aceita-me?" é a
pergunta que ele faz na obra
que mostra um rio minúsculo
desaguando no mar, como que
se estendesse para dentro da
própria solidão -e diluísse no
próprio sofrimento- a onda
desmedida de Derdyk.
Tal carência, às vezes latente,
às vezes exacerbada, perpassa
toda a obra do artista, vitimado
pela Aids em 1993. "Da Qualidade de Ser Forte", que fez dois
anos antes de morrer, parece
antecipar sua partida: sobre as
ondas de um oceano diminuto,
um barco flutua à deriva.
"É a vontade de lançar as coisas ao atrito, lançá-las à própria
morte", resume o curador Carlos Eduardo Riccioppo.
Na obra do cubano Alexis
Iglesias, que ocupa outra sala
no segundo andar, é o suporte e
sua dimensão física que parecem invadir o sujeito. Ele desenha caixas dentro de salas vazias na série "Para Ver a Ilha",
mas dobras e rasgos na folha de
papel acabam determinando o
rumo das linhas que contornam os objetos. "Sou um cubano no Brasil, então essas caixas
recolheram minha cultura para
trazê-la para cá", diz Iglesias.
Vibrações distorcidas
No andar de baixo, o atrito
está no tempo. Sofia Borges se
espreme entre possibilidades
analógicas e digitais para criar
nove fotografias. O aparato tecnológico, softwares e lentes, é
empregado para anular a própria precisão: no lugar da nitidez, o desfoco; no lugar da luz
calculada, sombras e cores em
vibrações distorcidas.
"Misturo os tempos de exposição dos objetos, e isso vai reforçando esse limbo entre as
imagens", diz Borges. "Eu gosto
dessa esquizofrenia."
A própria artista está nas cenas que retrata. Embora não
haja linha narrativa, parece haver uma trama absurda, que sublinha o prosaico: são objetos e
cenários domésticos que, nas
imagens, ganham uma energia
transbordante, exacerbada pelo jogo entre tons quentes e
frios, clareza e ambigüidade.
Do lado de fora, numa espécie de ante-sala dessa alcova,
Fernando Lindote também joga com os contornos, fazendo
brigar orgânico e maquínico.
Com fita isolante, o artista desenha no chão, teto e paredes
formas geométricas que se
transformam no que parecem
ser órgãos e fluidos do corpo.
"São coisas que escorrem e se
transformam noutra coisa", diz
Lindote, numa frase que consegue retomar o oceano incerto
de Derdyk e Leonilson.
LEONILSON, EDITH DERDYK,
ALEXIS IGLESIAS, SOFIA BORGES E FERNANDO LINDOTE
Quando: de ter. a sex., das 12h às
21h; sáb. e dom., das 10h às 18h; até
24/8
Onde: Centro Universitário Maria
Antonia (r. Maria Antonia, 294, tel.
3255-7182)
Quanto: entrada franca
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