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Crítica/"A Questão Humana"
Drama francês de difícil assimilação vê sinais do nazismo no mundo atual
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
A avalanche da produção
cultural em torno do
nazismo (memórias,
ensaios, romances, filmes de
ficção e documentários) consolidou o mito do regime de exceção, com seus monstros destrutivos e a progressão da barbárie
que bem sabemos ter culminado no Holocausto. À margem
dessa tendência, "A Questão
Humana" propõe outra interpretação do fato histórico, mais
dolorosa no sentido em que nos
diz respeito frontalmente.
Dirigido pelo francês Nicolas
Klotz, o filme pretende ser uma
releitura na qual o nazismo,
longe de ter se concluído com a
derrota alemã em 1945, emerge
como uma matriz do nosso presente. Neste quadro, os princípios essenciais do totalitarismo
estariam integrados nas formas
dominantes da administração
no mundo atual, no modo de
controle do capitalismo sobre
os corpos e comportamentos,
em suma, na submissão e na
disciplina necessárias para a
execução de tarefas que visam a
eficácia no regime de trabalho.
A obra acompanha o questionamento interior de um psicólogo, funcionário do setor de
relações humanas de uma indústria, filial francesa de uma
empresa alemã. Convocado pela chefia a decifrar o comportamento anômalo de um diretor,
ele traz à tona um passado que
evidencia o modelo dominante
das relações no presente.
Se já não bastasse a dificuldade
desta demonstração, Klotz insere ainda uma sucessão de metáforas, musicais, sobretudo, em
que o simbolismo sobrepõe clássico e tecnológico, humano e desumano, ordem e destruição, encontros amorosos e solidão. Por
meio de uma narrativa e de uma
imagem frias, o filme se desloca
da ênfase emocional e se concentra nas nuances da linguagem,
nos significados subterrâneos de
termos como "organização",
"reestruturação" e "adaptação".
Enquanto tese, o valor de "A
Questão Humana" é inquestionável em sua força de provocação. Já a forma adotada por
Klotz se ressente da tendência
do cinema francês de depender
em demasia do discurso, o que
torna sua assimilação um tanto
complicada.
Avaliação: bom
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