São Paulo, sábado, 28 de junho de 2008

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Crítica/teatro/"Confissões das Mulheres de 30"

Peça tem bom gosto e despojamento típicos de blog de amigos

Com clima de papo de bar inteligente, texto de Domingos Oliveira em cartaz no Teatro Folha disseca balzaquianas

Lenise Pinheiro/Folha Imagem
A partir da esq., Juliana Araripe, Camila Raffanti e Melissa Vettore, em "Confissões...'


SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

"Confissões das Mulheres de 30" é absolutamente honesta na sua proposta: trata-se de confissões de e para mulheres de 30 anos, em forma de uma seqüência de depoimentos, com bom humor levemente escrachado, sem cair no vulgar, mas que não vai além do simpático bom senso.
O trunfo de Domingos Oliveira é explorar um filão praticamente inexplorado desde Oduvaldo Vianna Filho: as incoerências de uma classe média intelectualizada tão raramente representada na dramaturgia nacional, que deve buscar um espelho no cinema argentino ou na televisão americana.
Rara exceção (ao lado de "A Grande Família", de Vianninha) é o seriado "Mothern", criado por Luca Paiva Mello a partir de um blog de Laura Guimarães e Juliana Sampaio, transmitido desde 2006 pelo GNT.
A presente montagem paulista é um subproduto direto de "Mothern": estrelado por três das quatro protagonistas da série (Camila Raffanti, Juliana Araripe, Melissa Vettore) e dirigido pela quarta (Fernanda D'Umbra, que se firma como diretora, depois do excelente "Roxo"), tem o mesmo bom gosto e despojamento de um bom blog de amigos, que é o segredo da série. À vontade, cúmplices, as atrizes têm sensibilidade e precisão, e tocam em pontos incômodos sem incomodar muito.

Divertida e rasa
Desarmando a armadilha do besteirol, a que o texto leva quase irresistivelmente, o figurino (uma monocromática e elegante ironia sobre a moda, de Marina Reis), a sofisticada luz (de Marcelo Montenegro) e o cenário minimalista (de Valdy Lopes Jr.) dão um verniz de inteligência a uma brincadeira entre amigas, divertida e rasa como um papo de bar, mas talvez justamente por isso tão bem recebida.
As mulheres de 30 anos, tão presentes nas crônicas urbanas desde Machado de Assis, no centro etário do imaginário masculino, sofrem de solidão.
Tamanho desencontro justifica a ironia feroz com que se referem ao sexo oposto, que anda cada vez mais frágil, e que acaba estigmatizado quase que como um mal necessário.
Contrapartida de um machismo que sempre imperou nas relações sociais, há no entanto uma mal disfarçada nostalgia nesse neofeminismo pelo tempo em que as coisas eram menos ambíguas: as mulheres eram sustentadas, burras e belas, confortáveis à sombra do poder do provedor que voltava à noite do trabalho.
Talvez por isso a última palavra seja dada ao autor Domingos Oliveira, que de própria voz emana paternalismo por essas balzaquianas incompreendidas. Na platéia, o pú- blico alvo vibra. Todos acabam reconciliados.


CONFISSÕES DAS MULHERES DE 30
Dramaturgia:
Domingos Oliveira
Direção: Fernanda D'Umbra
Onde: Teatro Folha (shopping Pátio Higienópolis, av. Higienópolis, 618, piso 2, Consolação, tel. 3823-2323; classificação: 14 anos)
Quando: qua. e qui., às 21h; até 14/8
Quanto: R$ 30
Avaliação: bom


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