São Paulo, quinta-feira, 28 de agosto de 2008

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2ª Mostra de Solos chega aos Parlapatões

Destaque da programação é monólogo cubano sobre o desejo de emigrar

"Muitos cubanos que emigram não sabem conduzir sua vida e põem a culpa no sistema", diz ator e co-autor de "De Paris, un Caballero"


Divulgação
O ator cubano José Antonio Alonso em cena de "De Paris, un Caballero", que encerra a mostra

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

"A história de qualquer homem pode começar por seus sapatos, pelos lugares por onde caminhou [...] Os sapatos sempre estão mudando de cidade [...] seus donos, quão infelizes, sempre situam a felicidade além do quinhão que lhes é concedido."
Se é verdadeira a digressão que abre o monólogo cubano "De Paris, un Caballero" (de Paris, um cavaleiro), apresentado na 2ª Mostra de Solos dos Parlapatões (veja a programação no quadro à direita), o ator e co-autor do texto, José Antonio Alonso, deve andar por aí descalço. Dos calçados que usa como metáfora para a emigração de seus pares ele não quer saber fora dos palcos:
"Há três coisas básicas para sustentar a felicidade: ter um lugar para viver, um trabalho de que se goste e um amorzinho. Tenho isso em Cuba. O resto vai se acomodando."
Na história, um ator fita o mar de Havana com olhares de despedida. A lembrança do Caballero de Paris -imigrante espanhol que, na metade do século passado, perambulava pelas ruas da capital a soltar máximas filosóficas (ou "o mais próximo a que chegamos de um Dom Quixote", segundo Alonso)- aos poucos o vai dissuadindo do degredo.
Para Alonso, "pode-se mudar de sistema [sócio-econômico] constantemente, mas, se não se tem clareza interior, não se será feliz em lugar nenhum":
"Muitos cubanos que emigram não sabem conduzir sua vida pelo melhor caminho e põem a culpa no sistema. São eles que não se encontram, não sabem o que querem, estão perdidos. A felicidade não está nos espaços, mas dentro de cada um. Essa é a lógica de pensamento segundo a qual vivo".
O ator e dramaturgo concede que "viver em Cuba tem sido difícil", mas vê nos problemas e nas restrições da vida cotidiana "o preço a ser pago por um pouco de liberdade, independência dos EUA".
"Houve muitos erros em meu país, mas eles serão resolvidos à medida que passe o tempo. Há conquistas em educação, cultura e outras áreas que não se podem perder a título de empreender uma mudança abrupta, brutal."

Presença estrangeira
Além do monólogo cubano, a porção gringa da mostra tem "Bevabbé", da argentina radicada na Itália Dodi Conti. Filiada à linhagem da stand-up comedy (sem cenários ou figurinos), a montagem flagra uma mulher que, ao chegar aos 40 anos, resolve mudar de orientação sexual. Até então lésbica, ela se aventura na conquista masculina.
Na ala nacional, o destaque é "A Poltrona Escura", em que Cacá Carvalho leva ao palco três contos de Luigi Pirandello (1867-1936): "Os Pés na Grama", "O Carrinho de Mão" e "O Sopro" -em que vive, respectivamente, um viúvo preterido pela família, um advogado e um homem que descobre o poder de matar. A interpretação deu a ele o Shell-SP em 2004.


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