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Pensadores discutem o homem e a tecnociência
Ciclo em SP, Rio e BH reúne Francis Wolff, Slavoj Zizek e Antonio Cicero
Coordenados por Adauto Novaes, debates de "Mutações" têm também Jean-Pierre Dupuy, Maria Rita Kehl, entre outros
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
O jornalista e filósofo Adauto
Novaes já organizou mais de 20
grandes ciclos de conferências,
mas diz que em nenhum a sensação de tatear no escuro foi tão
forte quanto em "Mutações - A
Condição Humana", que começa na próxima segunda-feira,
no Rio -terça em Belo Horizonte e quarta em São Paulo
(veja quadro ao lado).
Desdobramento de "Mutações - Novas Configurações do
Mundo" (2007) -cuja versão
em livro está sendo lançada- o
novo ciclo procura aprofundar
o debate sobre a situação do homem no mundo da biotecnologia e da neurociência.
"Nos outros ciclos, havia um
pensamento consolidado sobre
o qual se apoiar. Mas, agora, é
uma reflexão feita no vazio do
pensamento, pois o pensamento vem a reboque de uma civilização tecnocientífica velocíssima", afirma Novaes.
Ele recorda a idéia do austríaco Ludwig Wittgenstein
(1889-1951) de que "na corrida
do pensamento" ganha quem
for mais lento. O problema é
que, com o mundo se transformando tão rápido, reservar
tempo para a reflexão pode significar se omitir do debate e, logo, do papel de intelectual.
Até por isso, Novaes convocou os conferencistas brasileiros para um fim de semana em
Tiradentes (MG), em março
passado, com o objetivo de conceber os temas de "Mutações".
A reunião criou uma base para
os pensadores darem um passo
além do que já tinha sido discutido em "O Silêncio dos Intelectuais" (2005) e "O Esquecimento da Política" (2006), seminários em que havia resquícios da idéia de que vivemos em
crise, e não numa transformação do que é ser humano.
"A minha opinião é de que só
duas coisas podem quebrar essa hegemonia da tecnociência:
a arte, dentro do que o Paul Valéry [1871-1945] chama de coisas vagas, que fogem ao imediatismo dos fatos; e a política, como formas de organização social que vão permitir uma contraposição a esse domínio. A
política partidária está completamente superada, pois sofre
da falta de idéias", diz ele.
O ciclo começa de maneira
mais genérica, com o filósofo
francês Francis Wolff lembrando a história das respostas à
pergunta "o que é o homem?".
Algumas conferências tocarão mais em temas científicos,
como as dos franceses Jean-Pierre Dupuy e Jöelle Proust e
a do brasileiro Luiz Alberto Oliveira. Outras partirão de pensadores fundamentais como
Marx (Francisco de Oliveira),
Hannah Arendt (Newton Bignotto) e Michel Foucault (Oswaldo Giacoia Júnior).
E todas refletirão sobre o
"novo homem", a validade ou
não do conceito de humanismo
e a agonia ou não da delicadeza
(Maria Rita Kehl), do sujeito e
da filosofia (Antonio Cicero,
colunista da Folha) e da própria civilização humana (Sergio Paulo Rouanet). O esloveno
Slavoj Zizek, colunista do
Mais!, é um dos destaques do
ciclo, que terá uma versão reduzida (dez palestras) em Brasília a partir do próximo dia 10.
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