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ALTA ESPIONAGEM
Estratégia da empresa foi "queimar" o português para preservar o agente inglês, segundo a investigação da Polícia Federal
Kroll deixa espião ir "para o sacrifício", diz PF
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Dias após a divulgação de que a
Kroll Associates espionava membros do governo federal, a empresa combinou com Tiago Verdial,
seu representante no Rio de Janeiro, que ele deveria manter a discrição e não fugir, segundo as investigações feitas pela Polícia Federal.
Já seu chefe, William Goodall,
precisava "sumir". A estratégia da
Kroll era deixar Verdial ir para o
"sacrifício". A Polícia Federal acabou por prendê-lo dias depois.
A Kroll traçou a estratégia por
meio de um relatório por e-mail
para Verdial. Nas instruções, o escritório da empresa em Londres
diz que ele deveria se comportar
normalmente, pois seu desaparecimento justificaria uma batida
da PF "na calada da noite". Segundo a legislação brasileira, o lar
é inviolável durante a noite, ou seja, a polícia não pode entrar em
residências das 18h às 6h.
Foram dadas por telefone as
orientações a Goodall, agente
aposentado do serviço secreto
britânico, por um superior hierárquico seu em Londres. Na conversa, os dois concordam em deixar
Verdial para a PF. Os passos do
representante da empresa no Rio
continuaram sendo monitorados
de perto pela Kroll.
As circunstâncias da prisão de
Verdial no Rio dão mostras disso.
Segundo a Folha apurou, antes
mesmo de Verdial utilizar o direito de dar um telefonema -foi detido no Rio, levado para o hangar
da PF e de lá transferido para Brasília-, já haviam sido mobilizados três advogados para representá-lo. O trio já esperava por
Verdial na superintendência da
PF no Distrito Federal quando ele
chegou algemado ao prédio.
A Folha não conseguiu contato
com a assessoria de imprensa da
Kroll no início da noite de ontem
para falar sobre o assunto. Em todos os comunicados divulgados
até agora, a empresa diz que não
pratica espionagem e que está à
disposição das autoridades brasileiras para esclarecer o caso.
Advogado de Verdial, Roberto
Soares Garcia também não foi localizado para comentar as orientações da empresa. Anteontem,
Soares Garcia disse à Folha que
não tinha acesso ao inquérito.
No dia 22, a Folha publicou reportagem mostrando que ao investigar a Telecom Italia a pedido
da Brasil Telecom a Kroll Associates monitorou os passos de atuais
membros do governo federal, como o ministro Luiz Gushiken
(Comunicação e Gestão Estratégica da Presidência), e o presidente
do Banco do Brasil, Cássio Casseb.
A atuação da Kroll no mundo
das teles chegou ao conhecimento
da PF em março deste ano, em
meio às investigações sobre possíveis ligações entre a Telecom Itália e a Parmalat. A fábrica de laticínios pedira concordata, e os policiais buscavam indícios de irregularidades praticadas pela empresa.
No entanto, somente em 16 de
julho, quando a Telecom Italia enviou aos delegados federais Getúlio Bezerra e Emmanuel Balduíno
de Oliveira cópias de relatórios reservados da Kroll, houve conhecimento de que a empresa também
estaria atuando no âmbito da administração pública.
Em março deste ano, com autorização da 5ª Vara da Justiça Federal em São Paulo, na qual tramita
o inquérito relacionado à Parmalat, a PF grampeou uma conversa
entre um motorista da empresa e
um investigador da Kroll. Surgiu
daí a informação sobre a existência da investigação paralela no
meio das teles, batizada de Projeto Tóquio.
A PF encontrou a chave de um
cofre do Citibank na casa de Anne
Marie Verdial, mãe de Tiago, onde realizou busca e apreensão anteontem. Ao verificarem o conteúdo, os policiais encontraram-no vazio. As buscas realizadas na
residência da mãe e do pai de Tiago, que mora no Rio, nada adicionaram às investigações. A PF suspeita que os locais foram "limpos" previamente.
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