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JANIO DE FREITAS
Onde o cenário muda
A diferença mais notável entre o Datafolha de hoje e o Ibope de quatro dias atrás é que Ciro
Gomes e José Serra aparecem em
situação de empate real, com 20 e
19 por cento cada, e não no empate hipotético decorrente da aplicação, a favor de um ou de outro,
dos pontos da margem de erro da
pesquisa. A diferença mais notável não é, porém, necessariamente a mais importante.
A posição de Luiz Inácio Lula
da Silva se mostra inalterada em
relação ao Datafolha e ao Ibope
anteriores (os mesmos 37% e os
mesmos 35% já registrados), mas
sobre a sua candidatura é que recaem os mais mais agudos efeitos
político-eleitorais do empate de
José Serra com Ciro Gomes.
Todos os setores empresariais e
influentes que já se conformavam, à vista das dificuldades de
José Serra, em aceitar Lula da Silva para escapar às rebeldias de
Ciro Gomes, voltam às suas trincheiras e reativam a artilharia
pesada em favor do seu candidato
predileto.
Entre essas forças pró-Serra está
a mídia. É, digamos, o conjunto
de canhões daquela artilharia.
Deu a sonoridade pública que
complementou a operação para
desmontar a candidatura de Roseana Sarney, então considerada
o obstáculo maior a José Serra,
mas foi surpreendida, e perturbou-se, com a ocupação do novo
espaço por Ciro Gomes. A perturbação reduziu a intensidade da
ação eleitoral e levou a alguma
sutileza, o que permitiu a impressão de que a mídia se tornava,
nesta eleição, mais jornalística e
menos viciosa eleitoralmente.
Adeus a tal ilusão.
Nas forças empresariais e de mídia prevalece a convicção de que,
se José Serra chegar ao segundo
turno, Lula da Silva será levado à
quarta derrota. Alguém pode ter
dúvida do papel da mídia em
busca de tal objetivo? Não tardam os materiais sobre a prefeitura de São Paulo e o governo do
Rio Grande do Sul, apresentados
como se Lula da Silva fosse o responsável por essas administrações, nelas estivesse o prenúncio
de um governo seu e o São Paulo
do governo peessedebista não estivesse pior do que nunca. Daí em
diante, segundo a necessidade, o
limite será o vale-tudo.
Ciro Gomes não está liquidado
pelo empate. Sua capacidade de
reação é desconhecida, porque
não foi exigida antes e, sobretudo,
porque a campanha está mal conduzida. Para batê-lo ou para dificultar-lhe a reação, Ciro Gomes
continua na mira do canhoneio.
O que muda mesmo, a partir do
empate Ciro-Serra, é o cenário de
razoável limpeza democrática e
ética em que Lula da Silva pôde
transitar até aqui.
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