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FOLCLORE POLÍTICO / BORIS CASOY
Efeito Ricupero
Seria redundante dizer que a
televisão faz e desfaz políticos.
Para reduzir a influência do poder econômico nas eleições, o regime militar, quem diria, criou o
horário eleitoral na televisão e no
rádio. Destinava-se a levar a palavra dos candidatos, sem despesas para estes, diretamente ao
eleitor. Os programas eram ao vivo. Hoje quem está na tela não é o
candidato. É o marqueteiro que
se incorpora ao candidato; é uma
espécie de encosto de aluguel.
Muitos dos postulantes apenas
emprestam o corpo. Fala o marqueteiro. Falanges de redatores
preparam textos que supostamente o momento demanda. Eles
são interpretados com cuidado
teatral em teleprompters, sob luz
estudada e muita maquiagem.
Mas esse mundo televisivo é
composto por homens e máquinas; ambos sujeitos à crueldade
do acaso eletrônico. Foi um desses
acasos que catapultou o sr. Ciro
Gomes do Ceará para o Ministério. Itamar presidente, campanha
de Fernando Henrique. O todo
poderoso ministro da Fazenda
Rubens Ricupero preparava-se
para uma entrevista de fim de
noite na Rede Globo. Descontraído, aguardava o momento de ser
entrevistado. Mal sabia ele que,
embora a entrevista não tivesse
começado, sua imagem e voz
ecoavam no ar, através de um
traiçoeiro satélite. Voyeurs não
faltavam. Muitos com seus gravadores preparados, como se adivinhassem a iminente tempestade.
E Ricupero desandou a falar como num confessionário. Dito tudo, um diligente funcionário da
emissora avisou: estava no ar,
mas apenas no satélite. Ricupero
começava a cair.
Melhor sorte teve a candidata a
vice-presidente Íris Resende, casada com um homônimo, o ex-ministro Íris Resende. Ela aguardava o início de uma entrevista a
ser gravada pelo SBT; ela em Brasília, o entrevistador em São Paulo. Os técnicos pedem que ele fale
alguma coisa para regular o som.
Dona Íris teve uma súbita regressão. Com o satélite no ar, caprichou singular "atirei um pau no
gato-to-to, mas o gato-to-to, não
morreu."... Foram cerca de cinco
minutos de cantoria que fariam a
felicidade de qualquer adversário. Com um satélite mais discreto, só foi vista pelo pessoal do SBT
em São Paulo. Atendendo o apelo
da candidata, o entrevistador
prometeu não colocar a gravação
no ar. E segundo ele, para não
prejudicar o processo eleitoral,
mandou apagá-la.
Boris Casoy, 61, âncora e editor-chefe
do "Jornal da Record", escreve aos domingos nesta coluna
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