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Em Breves (PA), candidatos têm de abordar moradores de barco ou durante festas
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BREVES
Isolados em vilas erguidas
sobre palafitas, moradores da
zona rural de Breves (PA) tornam a campanha eleitoral
quase uma aventura para candidatos que disputam a prefeitura da maior cidade da
Ilha do Marajó, uma das áreas
mais pobres do Pará.
São cerca de 16 mil eleitores
que só podem ser alcançados
de voadeira (barco com motor). Nas viagens pelo labirinto fluvial da região, o candidato corre risco de ficar no meio
do caminho, sem gasolina ou
com um motor quebrado.
Quando não são acompanhados por barco de apoio,
dependem de moradores para
comer, ir ao banheiro e até
dormir, pois nem sempre sobra tempo para voltar, como a
Folha observou em três dias
acompanhando a comitiva de
Xarão Leão (PMDB), que tenta se eleger prefeito.
Sendo impossível parar nas
170 comunidades espalhadas
pelos 9.500 km2 de Breves (a
cidade de São Paulo tem 1.493
km2), o contato com o eleitorado é feito sobretudo em festas. Os candidatos, anunciados por DJs de brega ou de
tecnobrega, bebem, dançam e
flertam com as mulheres.
A campanha no "interior"
de Breves tem outro objetivo:
convencer os ribeirinhos a votar. Tarefa difícil, já que muitos só chegam ao local de votação após horas de remo.
Miseráveis e longe de qualquer fiscalização, os moradores vêem no contato com políticos uma chance de obter
itens básicos em troca de seu
voto. Em todos os pontos nos
quais Xarão Leão parou, ao
menos uma pessoa veio lhe
pedir algo -remédios, atendimento médico, passagens para Belém, emprego.
Políticos ouvidos pela Folha disseram que a compra de
votos em Breves é "aberta" e
"histórica". Mas Leão e Vilson
Mainardi (PP), outro candidato, disseram que tentam mudar essa realidade.
"Na época das eleições é que
a pessoa consegue alguma coisa. Porque ele vem atrás do
voto e a gente vai atrás do emprego", afirmou o desempregado Ronildo da Silva, 21, que
pediu a Leão uma ocupação
"em qualquer coisa".
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