São Paulo, domingo, 01 de dezembro de 2002

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Auge da exploração do metal em Serra Pelada foi em 1983, com mais de 80 mil garimpeiros trabalhando

Primeira onda de garimpeiros extraiu 41 toneladas de ouro

U. Dettmar 07.dez.84/Folha Imagem
"Formigas" de Serra Pelada carregam sacos de cascalho para ser processado na extração do ouro


DA REDAÇÃO

A primeira "febre do ouro" em Serra Pelada começou há mais de duas décadas, com a descoberta de uma jazida no sudeste do Pará que se tornaria o maior garimpo a céu aberto do mundo.
Não se sabe ao certo quem foi o autor nem a data exata da descoberta. O certo é que, em fevereiro de 1980, em Marabá, a cerca de 150 km de onde hoje é Serra Pelada, correu a notícia de que lá havia "ouro como nunca antes se viu", como escreveu o repórter Ricardo Kotscho no livro "Serra Pelada -Uma Ferida Aberta na Selva" (1984), reunindo reportagens de sua autoria publicadas na Folha.
A descoberta atraiu para Serra Pelada milhares de homens -sobretudo de áreas pobres do Pará e do sudoeste do Maranhão.
De acordo com o DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral), de 1980 a 1990, cerca de 41 toneladas de ouro foram extraídas nessa mina -que fica na parte leste do maciço de Carajás, numa área cuja concessão de lavra pertencia à então estatal Companhia Vale do Rio Doce.
No início dos anos 80, assim como hoje, o Brasil vivia uma crise no balanço de pagamentos. Isso, aliado às notícias de que o ouro retirado estava sendo contrabandeado, provocou uma reação rápida do governo do general João Baptista Figueiredo.
Em 21 de maio de 1980, o governo federal iniciou intervenção no controle de Serra Pelada, que estava nas mãos dos garimpeiros.
Áreas de lavra e garimpeiros foram registrados pela Receita Federal, e todo ouro encontrado deveria ser vendido à Caixa Econômica Federal, que montou uma agência no local. Um armazém oficial foi instalado para vender alimentos a preços de Brasília.
A intervenção teve o comando do militar Sebastião Rodrigues de Moura, o major Curió, um ex-agente do SNI (Serviço Nacional de Informação) que combateu a guerrilha do Araguaia na década de 70. Curió se tornou popular entre os garimpeiros e, com a ajuda deles, se elegeu deputado federal em 1982 -ano em que a Vale entrou na Justiça para tentar reaver a concessão de lavra da área.
Como deputado, Curió propôs uma lei que dava permissão para que garimpeiros continuassem explorando o ouro de Serra Pelada por mais cinco anos. A "lei Curió" foi aprovada pelo Senado em outubro de 1983. Hoje, Curió é prefeito de Curionópolis, município criado em maio de 1988 e que abriga o distrito de Serra Pelada.

Mortes
As mortes de garimpeiros por deslizamentos foram uma constante em Serra Pelada. Em 1983, no maior acidente desse tipo, 19 morreram. Em 1984, foi aprovada indenização à Vale de cerca de US$ 60 milhões pelo ouro até então extraído pelos garimpeiros.
Com a redemocratização do país, em setembro de 1985, a Cooperativa dos Garimpeiros de Serra Pelada assumiu o comando do garimpo, pondo fim à intervenção federal. Em abril de 1986, a primeira mulher se mudou para o garimpo sem ser expulsa. Até então, a entrada delas era proibida.
Com a produção em queda, em 28 de dezembro de 1987, garimpeiros interditaram a ponte rodoferroviária sobre o rio Tocantins, impedindo escoamento de produção de Carajás para o porto de Itaqui (MA). Eles queriam que o governo rebaixasse a cava do garimpo, para aumentar a produção e torná-la mais segura.
No dia seguinte, uma operação da Polícia Militar do Pará para desimpedir a ponte deixou três garimpeiros mortos, segundo a PM. De acordo com os garimpeiros, o número de mortos passou de 60.
O ano de 1987 foi o último em que a produção de ouro no garimpo superou 2 toneladas. Segundo o DNPM, o auge foi em 1983, com produção de 13,9 toneladas e mais de 80 mil garimpeiros trabalhando. De 1984 a 1986, a produção se manteve em cerca de 2,6 toneladas anuais. Caiu para 2,2 em 1987. Em 1988, foi de 745 kg, e, em 1990, de menos de 250 kg.
Em março de 1992, o Ministério da Infra-Estrutura não renovou a autorização de 1984, e o garimpo voltou a ser concessão da Vale.
Em 24 de outubro de 1996, uma operação conjunta do Exército e da Polícia Federal pôs fim à obstrução de 171 dias nos acessos a Serra Pelada e nas sondas da Vale.
Na época, a Vale oferecia R$ 6.000 para quem quisesse sair do garimpo. Os garimpeiros exigiam uma indenização maior.
Em setembro deste ano, um decreto legislativo devolveu a área ao controle dos garimpeiros, provocando nova onda migratória.



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