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AJUSTE PETISTA
Sem alternativa por ora, presidente aposta nas reformas e demonstra insatisfação com funcionamento do governo
Lula é pressionado a ter "plano B" econômico
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Nos últimos 15 dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sofreu
pressão nos bastidores do governo para pensar num "plano B"
para a economia. Ele, por ora,
descartou a hipótese e, avaliando
que não há alternativa viável no
momento, deu mostras de que
manterá a política do ministro
Antonio Palocci, da Fazenda.
Lula crê que seu mandato será
salvo pela política, implementando as reformas previdenciária e
tributária. A partir daí, até a reeleição estaria bem encaminhada.
A Folha conversou com interlocutores e auxiliares de Lula para
saber o que próprio presidente
pensa sobre seus dois meses de
poder. Lula está insatisfeito com o
andamento gerencial de alguns
ministérios e programas sociais.
Daí o diagnóstico de que cabe
principalmente a ele, fazendo política, aprovar as reformas previdenciária e tributária para garantir o sucesso de seu mandato. No
eventual segundo governo, mais
experiente, viriam transformações sociais pregadas historicamente pelo PT.
Gerenciamento e reformas
Inoperância no Ministério do Planejamento, crise no Fome Zero, falta de foco dos ministros Benedita da Silva (Assistência e Promoção Social) e Olívio Dutra (Cidades), excesso de atribuições e estilo centralizador do ministro
José Dirceu (Casa Civil) são problemas que levaram Lula a concluir que o governo vai mal na rotina administrativa. O PT aprende a ser governo a duras penas, tem
repetido o presidente.
O sucesso da reunião com os
governadores e a resposta rápida
à crise de segurança no Rio evidenciaram que é na grande política que o governo vai bem. Pesquisas internas mostram que a imagem de Lula é a de um presidente
preocupado e disposto a resolver
os problemas da população.
Essa imagem dá a Lula um cacife político que, se bem usado,
conseguirá aprovar duas reformas complicadas, mas fundamentais para despertar expectativas positivas na comunidade financeira internacional e eliminar
entraves que emperram o crescimento econômico do Brasil.
Os dois parágrafos anteriores
são, quase literalmente, o diagnóstico de uma reunião reservada
de Lula com a cúpula do governo.
Palocci na mira
Pela primeira vez, o ministro da
Fazenda, Antonio Palocci Filho,
não recebeu críticas apenas do expoentes da ala radical do PT. Gente graúda demonstrou, reservadamente, dúvidas em relação ao sucesso da receita econômica do ministro da Fazenda.
A lista de críticos inclui o presidente do BNDES, Carlos Lessa, o
líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), o ministro Guido Mantega (Planejamento), o ministro Ciro Gomes (Integração Nacional), o governador
Roberto Requião (PMDB-PR) e a
economista Maria da Conceição
Tavares. Crítica do "malanismo"
de Palocci, Maria da Conceição
falou longamente com Lula por
mais de uma vez nas últimas semanas. O presidente a escuta.
O ministro da Fazenda, porém,
tem dois grandes trunfos:
1) Consulta Lula sobre toda decisão dura. Um exemplo foi antecipar para o presidente, antes da
última reunião do Conselho de
Política Monetária, o segundo aumento de juros do ano;
2) Palocci tem o apoio firme dos
outros dois ministros que, com
ele, formam a cúpula da cúpula
do governo, José Dirceu e Luiz
Gushiken (Comunicação de Governo e Gestão Estratégica). Dissipou-se a tensão que havia entre
José Dirceu e Palocci na transição
de governo.
Gushiken é um antigo amigo de
Palocci e o curinga de Lula. Participa de todas as reuniões importantes, da política à economia, do
Fome Zero ao pacote de segurança para o Rio.
Apesar dos trunfos de Palocci,
Lula tem um processo de tomada
de decisão que estimula a busca
permanente de novas opiniões.
Aí mora o perigo para o ministro da Fazenda, afirma um auxiliar de Lula, referindo-se à conversa com a economista Maria da
Conceição Tavares.
Mercadante e Ciro
Dias atrás, por exemplo, Mercadante disse que não foi ministro
da Fazenda porque não quis. A
declaração foi interpretada no governo como um recado para Palocci de que Lula tinha e tem alternativa para o seu posto.
A versão de Mercadante é parcialmente verdadeira. Se quisesse
a Fazenda, Lula não teria como
dizer não. Argumento: Mercadante deu a cara econômica do PT
durante anos. Seria injusto e politicamente complicado rifá-lo.
Ao mesmo tempo, Lula deixou
claro, por intermédio de interlocutores, que preferia que ele não
pedisse o posto. A rigor, Lula não
o queria na Fazenda. O presidente
acha que Mercadante deve esperar a vez de ser ministro.
Mercadante, aliás, é o candidato
de Lessa, Requião e cia. ao lugar
de Palocci. Numa conversa com
Lula, Requião chegou a dizer que
o PT vive a "Síndrome de Estocolmo". "Estão apaixonados por
seus algozes", brincou Requião,
ao falar que a política econômica
de Palocci repetia Malan e que
precisava ser mudada.
Ciro Gomes, por exemplo, anda
quieto, suportando corte de gastos e evitando o estilo verborrágico e arestoso da eleição.
No entanto, o ministro da Integração Nacional soltou a um amigo uma inconfidência: acha suicida a linha econômica de Antonio
Palocci Filho.
Avaliação: o Brasil não controla
todos os fatores que afetam esse
modelo de extrema vulnerabilidade externa. Logo, radicalizar o
modelo, como faz o ministro Palocci na esperança de conquistar a
confiança do mercado e revertê-lo, seria ilusão.
Numa crise, crêem aliados de
Ciro, ele poderia assumir a Fazenda. Gente próxima a Luiz Inácio
Lula da Silva diz o contrário: muito difícil isso ocorrer.
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