|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Não existe correlação
entre futebol e eleição
DA REDAÇÃO
Não há correlação direta entre
futebol e política. Conquistar a
Copa do Mundo não assegura a
vitória do governo na eleição, perder não implica necessariamente
uma derrota. Em 1958, o Brasil ganhou a Copa, e o partido governista perdeu as eleições; em 1986,
a seleção perdeu, mas o governo
teve uma vitória esmagadora.
A dinâmica eleitoral não segue
uma lógica unilinear. Em 1950,
quando o Brasil perdeu a final da
Copa para o Uruguai, o bloco governista se dividiu: a UDN lançou
Eduardo Gomes, e a aliança PSD-PR indicou Cristiano Machado.
O partido do presidente Eurico
Dutra, o PSD, não foi mal nas eleições para a Câmara: sozinho, conseguiu 36,8% das cadeiras -mais
que as atuais bancadas do PSDB e
PMDB somadas. E, nas disputas
estaduais, o PSD elegeu mais da
metade dos governadores. No
pleito presidencial, porém, o candidato governista foi abandonado
pela maioria de seu partido, que
apoiou veladamente o candidato
da oposição, Getúlio Vargas
(PTB), afinal eleito presidente.
Em 1958, a situação se inverteu:
o Brasil ganhou a Copa na Suécia,
o presidente Juscelino Kubitschek
recepcionou os campeões, porém
nada disso beneficiou o PSD: a
bancada na Câmara ficou estável
(34,9%), mas as eleições para os
governos estaduais terminaram
em desastre: o partido só elegeu
dois governadores em 11 Estados.
Em 1962, o Brasil voltou a vencer a Copa, desta vez no Chile. A
Presidência era ocupada por João
Goulart (PTB), mas o regime era
parlamentarista, e o primeiro-ministro pertencia ao PSD: durante a
Copa, o premiê era Tancredo Neves, que saiu em 12 de julho, substituído por Brochado da Rocha.
Nas eleições para a Câmara, o
PTB foi bem, pois aumentou sua
bancada de 20,2% para 28,3%. Já
o PSD, que controlava a administração federal, foi muito mal: despencou de 35,2% para 28,8%.
A Copa de 1966 foi a primeira
disputada durante o regime militar. A seleção brasileira foi eliminada nas eliminatórias, mas a derrota não prejudicou o desempenho dos candidatos governistas: a
Arena elegeu 277 deputados federais (68%), contra 132 do MDB, e
18 senadores (82%), contra 4.
Na Copa de 1970, o presidente
Emílio Médici recebeu a seleção
tricampeã em Brasília. A Arena
teve então sua maior vitória eleitoral, mas o partido dispunha de
outros trunfos: o governo militar
havia cassado os principais líderes
do MDB entre dezembro de 1968
e abril de 1969 (62 deputados federais e 4 senadores) e a economia nacional crescia a 9% ao ano.
Em 1974 o Brasil perdeu a Copa,
e a Arena tropeçou nas eleições: o
MDB elegeu 16 de 22 senadores
(72,7%) e 160 deputados federais
(44,0%). Mas outros fatores pesaram mais no resultado eleitoral: o
MDB obteve acesso à TV para divulgar suas propostas, e a economia estava em franca desaceleração. A contraprova é fornecida
pelas eleições seguintes: o Brasil
perdeu as Copas de 1978 e de 1982,
mas o governo militar, por meio
da Arena e do PDS, manteve seu
controle sobre o Legislativo.
Em 1986, com José Sarney
(PMDB) no Planalto, o Brasil perdeu a Copa outra vez. Isso não impediu o PMDB de obter, graças ao
Plano Cruzado, uma vitória acachapante: o partido elegeu 22 de
23 governadores, 53,4% da Câmara e 77,6% do Senado. Em 1990,
porém, o Plano Collor começou a
fazer água antes da eleição, e os
partidos governistas tiveram menos êxito: elegeram 14 governadores, contra 12 da oposição.
O país voltou a ganhar a Copa
em 1994, ano em que Fernando
Henrique Cardoso foi eleito. Mas
FHC só ultrapassou Lula nas pesquisas depois do Plano Real: não
foi por causa da Copa. Tanto que,
em 1998, o presidente foi reeleito,
embora a seleção tenha perdido.
Texto Anterior: Análise: Dos candidatos, Ciro é o melhor comentarista Próximo Texto: Elio Gaspari: Lula-Simon, por que não? Índice
|