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Lula diz que vai reclamar da ação dos EUA em Doha
Em evento com intelectuais, presidente afirma que ligará para Bush e Singh, da Índia
Dilma sorri quando Lula fala que todos sabem quem será seu candidato em 2010; economista diz duvidar que reforma tributária seja feita
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou a cerca
de 40 intelectuais, com quem
se reuniu no Rio ontem, que telefonaria para o presidente
George W. Bush a fim de reclamar do comportamento dos
Estados Unidos na recente Rodada Doha da OMC (Organização Mundial do Comércio).
Lula criticou as posições dos
EUA e da Índia, que, por não se
entenderem em questões relacionadas ao protecionismo
agrícola, levaram as negociações ao fracasso. O presidente
disse que, depois de se queixar
a Bush, pretende ligar para o
primeiro-ministro da Índia,
Manmohan Singh.
Participantes do encontro
relataram à Folha que Lula demonstrou contrariedade com o
fato de os dois países, embora
parceiros em questões nucleares, discordarem em tema relacionado à "fome no mundo".
O sociólogo Emir Sader, presente à reunião, anotou os comentários do petista. Segundo
ele, Lula disse o seguinte, após
avisar que telefonaria para
Bush e Singh: "Vou dizer para
eles: "Pô, acertar acordo nuclear vocês sabem, né? Mas
acertar coisa muito mais importante, a questão agrícola,
que vai afetar a fome no mundo, ajudar os países mais pobres, vocês não conseguem?'"
O cineasta Paulo Thiago afirmou que Lula citou a superpopulação como uma justificativa
plausível para a Índia. "Ele falou muito que o Bush e a Índia
derrubaram um trabalho espetacular, que a Europa tinha
concordado, que estava tudo
acordado. Ele disse assim:
"Quem vai ganhar com isso são
os mais ricos, quem vai perder
são os países mais pobres". Disse que a Índia ele entendia,
porque tem 650 milhões de
pessoas lá. Realmente a divisão
de terras é mínima. Mas os
EUA, ele não compreendia."
O encontro foi fechado para
jornalistas. Em uma mesa, sentaram-se Lula, os intelectuais e
oito ministros. O presidente falou sobre sua sucessão. Disse
que, para manter o trabalho desenvolvido em seus dois mandatos, precisa eleger o sucessor. Sem citar a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, presente, Lula afirmou que todos
ali sabiam quem é seu candidato preferido. A maioria riu. Dilma sorriu de modo discreto,
conforme os relatos.
O encontro começou sem a
presença de Lula. A condução
coube ao ministro Paulo Vanucchi (Direitos Humanos).
Quando o presidente chegou,
falaram 14 intelectuais, o ministro Fernando Haddad (Educação) e Dilma.
Ao discursar por 35 minutos,
Lula comentou questões levantadas pelos intelectuais. Ao dizer que a reforma tributária
sairá ainda neste ano, foi interrompido pela economista Maria da Conceição Tavares. "Duvido, presidente!", gritou. Amigo dela, Lula riu e falou que
cumprirá a promessa.
Para o escritor Arnaldo Niskier, da Academia Brasileira de
Letras, a fala do presidente não
foi aprofundada. O dramaturgo
Alcione Araújo lamentou que
Lula não tenha comentado sobre o que considera falta de
convergência entre as políticas
de educação e de cultura.
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