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"Tudo isso é uma grande armação", declara Garcia
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Assessor internacional da
Presidência e ex-presidente interino do PT, Marco Aurélio
Garcia negou ontem enfaticamente qualquer vínculo do governo e do partido com as Farc
(Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e disse: "O
tempo vai mostrar que tudo isso é uma grande armação".
Segundo Garcia, a publicação
na imprensa colombiana de
trocas de mensagens de líderes
das Farc citando políticos, assessores e membros do atual
governo, inclusive ele próprio,
"não passa de provocação e é
inespecífica, não mostra relação nenhuma com as Farc".
Ele se referia à revista "Câmbio", que publicou trechos de e-mails já divulgados pela Folha
e cuja origem seria o computador de Raúl Reyes, o segundo
das Farc, morto em março.
A revista é alinhada com o
governo do presidente Álvaro
Uribe e sua linha editorial é ditada por um irmão do ministro
da Defesa, Juan Manuel Santos, que é considerado "linha
dura" e candidato à sucessão de
Uribe.
Ele também já foi jornalista e
sua família era proprietária e
dirige o principal jornal colombiano, "El Tiempo".
Garcia eximiu Uribe de responsabilidade pela divulgação
dos e-mails e insinuação de que
membros do governo brasileiro
seriam alinhados com as Farc:
"Não é esse o interesse do presidente Uribe, que é um aliado
do governo Lula", disse, por telefone, do Paraguai.
Questionado se ele achava
que, fora Uribe, outros membros do governo teriam interesse em constranger ou envolver o Brasil, Garcia disse: "Eu
não acho nada. Quem acha vive
se perdendo [da música "Feitio
de Oração", de Noel Rosa]".
O mais importante, afirmou
ele, é ficar claro que os supostos e-mails não significam nada
e que o governo Lula, seus
membros e o PT não se relacionam com as Farc.
"Esse assunto não nos toca,
nem ao governo nem ao PT.
Não temos absolutamente nada a ver com as Farc."
E-mail
Em e-mail atribuído ao "embaixador das Farc" no Brasil,
Olivério Medina, e dirigido a
Raúl Reyes, Garcia teria sido
chamado de "inefável" por vetar presença das Farc no Foro
de São Paulo -movimento
criado em 1990 que reúne partidos e grupos de esquerda da
América Latina, inclusive o PT.
À Folha, no início de julho, o
assessor e ideólogo de Uribe na
Colômbia José Obdulio Gaviria
admitiu certo mal-estar com a
posição considerada dúbia do
Brasil em relação às Farc.
"Eles [do governo Lula] vêm
de uma percepção das Farc como movimento de esquerda e
estavam equivocados. O que as
Farc fazem é terrorismo".
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