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Teles vão ao STF contra divulgação de escutas
Operadoras dizem não reconhecer a autoridade de CPI para determinar quebra de sigilo de processos que geraram mandados
Seis empresas de telefonia afirmaram que a idéia será ganhar tempo para montar a melhor estratégia jurídica para anular o requerimento
ALAN GRIPP
MARIA CLARA CABRAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As operadoras de telefonia
declararam guerra à CPI dos
Grampos na Câmara e entraram com um recurso no STF
(Supremo Tribunal Federal)
para não entregarem os dados
de seus clientes que foram alvo
de escutas telefônicas em 2007.
Por meio de um mandado de
segurança, impetrado na última sexta-feira, as empresas pediram ao STF para não enviar à
CPI informações sobre as 409
mil escutas realizadas no ano
passado. Não há prazo para que
o tribunal se manifeste.
Requerimento aprovado pela
CPI obriga as operadoras a enviarem cópias dos mandados
judiciais que autorizaram, no
ano passado, as interceptações
das conversas. O prazo para entrega vence amanhã, mas até
sexta nenhuma empresa havia
cumprido a determinação.
O presidente da CPI, Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), afirmou
que não concederá mais tempo
às operadoras. Ele disse que o
caso será analisado na próxima
reunião da comissão, terça-feira, e não descartou a votação de
pedidos de busca e apreensão.
"Qual é o temor das operadoras? Será que há algo de podre a
ser mostrado? Tem que haver
respeito com a Câmara como
instituição", afirma Itagiba.
As ordens judiciais permitirão à CPI conhecer todas as
pessoas grampeadas em 2007 e
o motivo das escutas. Embora
as operadoras tenham informado 409 mil escutas no ano
passado, especialistas acreditam em um número maior.
Seis operadoras solicitaram à
CPI mais prazo para entregar
os dados, entre 15 e 60 dias.
Executivos de quatro empresas
disseram à Folha que a idéia é
ganhar tempo para montar a
melhor estratégia jurídica para
anular o requerimento.
No recurso enviado ao STF,
os advogados das operadoras
de telefonia dizem não reconhecer a autoridade da CPI para determinar a quebra de sigilo dos processos que deram origem aos mandados. Alegam
ainda que, se cumprirem a determinação da CPI, vão quebrar o sigilo de investigações
que correm em segredo de Justiça e que também poderão ser
transformadas em réu em processos por quebra de sigilo.
A Telefônica foi a única operadora a deixar a estratégia clara. Em ofício à CPI, obtido pela
Folha, a empresa alega que o
repasse dos dados "caracterizaria uma quebra de segredo de
justiça" e pede para ser desobrigada de enviar os dados. A
resposta de Itagiba é não.
Outra operadora, a Sercomtel, que atua no Paraná, informou à CPI que não tem como
atender ao requerimento, já
que as ordens judiciais foram
"totalmente eliminadas, não se
guardando cópia (sic) dos mesmos". O caso será analisado separadamente pelos deputados.
Por meio de sua assessoria, a
Sercomtel disse que não há lei
que a obrigue a manter as informações. E que a decisão de eliminar os documentos é um
procedimento interno adotado
para resguardar a empresa de
possíveis vazamentos.
A CPI alega que os dados são
a única forma de descobrir se
há abusos nos grampos autorizados. "Não somos contra o
grampo, e sim contra a sua banalização", diz Itagiba.
Um executivo de uma das gigantes do setor disse à Folha
que os números de grampos estão subestimados. Segundo ele,
foram feitas entre 1,5 milhão e
2 milhões de escutas nos últimos 18 meses. Nos cálculos dele, isso significa que cerca de 9
milhões de pessoas tiveram
suas conversas gravadas.
Em eventual briga judicial, a
CPI se comprometerá a manter o sigilo das informações.
"Quem vazar, que pague com o
seu mandato", afirma o relator,
Nelson Pellegrino (PT-BA).
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