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Agentes podem ter feito grampo, diz general
Jorge Felix nega que Abin, como instituição, esteja envolvida, mas admite a possibilidade de participação de funcionários
Ministro diz que órgão não tem poderes nem material para fazer interceptações e que única forma de evitar escuta é "não abrir a boca"
MARIA CLARA CABRAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em depoimento ontem à CPI
dos Grampos da Câmara, o ministro-chefe do GSI (Gabinete
de Segurança Institucional),
Jorge Armando Felix, negou
que a Abin, como instituição,
tenha grampeado o telefone do
presidente do STF (Supremo
Tribunal Federal), Gilmar
Mendes. Mas, apesar de dizer
que a "probabilidade é baixa",
não descartou a hipótese de a
interceptação ter sido feita por
agentes da própria agência.
"Não, certamente não. A
Abin, como instituição, não fez
e não faz essas coisas [grampos], mas quando digo que não
descartamos nenhuma hipótese é porque trabalhamos com
seres humanos. Agora, se você
me perguntar qual é a probabilidade [de agentes terem realizados a escuta], eu diria que é
baixa, porque os chefes têm
controle de seus funcionários."
Segundo o general, a Abin
não tem poderes nem material
para realizar escutas, já que os
únicos equipamentos comprados pela agência seriam para fazer varreduras. Ele afirmou
que, quando a agência identifica suspeitas de atividades criminosas em suas investigações,
repassa o caso para a Polícia
Federal -responsável por pedir os grampos-, mas que "infelizmente" há precedentes de
interceptações realizadas por
funcionários dentro da agência.
Ele também disse que o presidente Lula foi alvo de escutas
em viagem ao exterior. Sem dar
detalhes, falou que os equipamentos foram destruídos.
Ainda sobre a conversa gravada entre Gilmar Mendes e o
senador Demóstenes Torres
(DEM-GO), Felix disse que não
pretende fazer especulações. O
ministro disse apenas acreditar
que a ligação grampeada entre
os dois tenha ocorrido de um
telefone fixo para outro móvel.
"Pode ter sido de qualquer lugar, no Senado, no STF ou ainda pode ter sido de uma programação de computadores das
operadoras", disse. Questionado se a Abin dispunha das chamadas maletas especiais para
fazer grampos, ele limitou-se a
dizer que não sabia.
Felix disse ter conhecimento
que maletas foram compradas
para o Pan do Rio no ano passado. Segundo ele, o equipamento foi adquirido "provavelmente" pela Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública),
ligada ao Ministério da Justiça.
Procurado, o Ministério da
Justiça afirmou que não poderia confirmar o dado, pois o diretor da Senasp, Ricardo Balestreri, estava em viagem.
Questionado ao final do depoimento -que levou cerca de
seis horas- sobre métodos para evitar grampos, Felix disse:
"a única forma realmente eficaz é não abrir a boca".
Sem crise
Durante o depoimento, o general negou ainda que a PF e a
Abin passem por uma crise. Para ele, todo relacionamento é
formado por altos e baixos. No
momento qualquer crise que
possa ter havido foi superada,
disse. Ele aproveitou para elogiar e manifestar sua "integral
confiança" em Paulo Lacerda,
diretor da agência, e dizer que
seu afastamento aconteceu para "evitar constrangimentos".
O ministro também disse que
a agência não faz dossiê, apenas
levantamento de dados biográficos de possíveis contratados.
Felix repetiu o discurso de
Lacerda de que a agência participou só pontualmente da Operação Satiagraha, que levou à
prisão de Daniel Dantas.
Hoje, a CPI deve ouvir o diretor-adjunto afastado da Abin,
José Milton Campana, que foi
dispensado ontem pela comissão. Ontem, os deputados aprovaram requerimento para ouvir Ailton Carvalho de Queiroz,
chefe de segurança do STF.
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